quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Estrada - pt. 3

Estou na BR-050, pelo mapa vou ter mais de 200 km de viagem. Nesse ritmo vou chegar sabe-se lá Deus quando mas vou chegar. Estou vendo vários caminhões parados nas estradas, não sei o que tem debaixo das lonas, tenho até medo de saber. Espero que seja somente soja e essas coisas.
Houve movimentação debaixo de uma delas, ao visto, alguns caminhões estavam transportando pessoas para longe dos centros urbanos, se tinha algum infectado entre eles... bom, melhor nem pensar.
Vi relatos de outros sobreviventes, em MG tem uma família em uma pedreira com um bebê, isso me preocupa, vou passar por perto na viagem, quero ver se posso ajudá-los. Na Bolívia tem mais sobreviventes, alguns estrangeiros, não podem voltar para seus países, mesmo sendo europeus, avião já era.
Passei por um trecho onde a BR-050 foi duplicada recentemente, as marginais estão apinhadas de carros parados, alguns eu vi que tem zumbis dentro.
Mais para frente é possível que eu encontre mais carros parados, esses tanques reservas que enchi foram muito úteis mas esse carro bebe demais. Modelos antigos costumam ser beberrões, quero ver se encontro outro carro grande assim para viajar. A média de 7 km/l não é uma boa, tenho que parar para ver se esses carros parados têm gasolina e pegar um pouco para mim.
A viagem tem sido relativamente tranquila. Tem poucos na estrada. Atropelei alguns por diversão mesmo, espero que meus pequenos atos de vandalismo ajude a diminuir o número dessas pragas.
O que me tem dado um nó na garganta é ver crianças nesse estado. Estranhamente elas são mais rápidas, deve ser pela pouca carne e musculatura e seu tamanho, apodrecem devagar e isso as mantém ativas por mais tempo.
Esses trechos urbanos me preocupam, espero sair logo disso. Os trechos onde só tem mato, dos 2 lados me aliviam, não vi zumbis saindo de trás de uma árvore mas de trás de um poste ou carro parado, vi vários. Eles estão tocaiando mesmo, um pulou na frente do carro em movimento.
Vi uma cena do lado esquerdo que me deixou de cara, um grupo de zumbis comendo um corpo já estragado. Zumbis comendo zumbis? Será que a fome é tanta que quando um zumbi não anda mais ele é comido?
Se nos transformamos em um deles quando somos mordidos, o que acontece com os zumbis que comem carne já infectada?
Melhor pensar que não vai acontecer nada, mas minha paranóia me diz que vai dar merda. E das grandes. Espero que se comam mesmo, assim será mais fácil eliminar os restantes.
Sai do trecho urbano, mais para frente vi alguns carros parados no acostamento. Mas sai do trecho urbano, isso alivia mesmo.
Pelo que vi, até onde a vista alcança é só mato, isso é ótimo. Esses carros do acostamento, porque tantos? Será um acampamento de sobreviventes? Espero que sim, se for, podemos trocar informações e até mesmo   poder ajudar alguém. Espero que esteja tudo em ordem. Poucos sabem da meleca que dá quando simplesmente arranhado.
A mordida já deve ser bem clara para os sobreviventes, mordeu? Morreu!
Amém por essa estrada estar tão conservada, muito pouco carro no caminho mesmo. Imagino que os sobreviventes tenham ido para os trechos urbanos para se esconder e deu no que deu.
Nas cidades há vários carros parados no caminho mas aqui, nos trechos do mato, é bem tranquilo. Poderia até escutar um som se eu não estivesse com o rádio de ondas curtas ligado direto.
Nenhuma transmissão, nenhum contato. Essa sensação de isolamento é meio deprimente.
Pelo menos sei que há outros, mas estamos tão afastados um dos outros que a única forma de se não se sentir isolado é lendo os relatos deles.
Luciano, meu primeiro camarada sobrevivente, parece bem. Conseguiu uma casa no SMPW. As casas lá são realmente grandes, são mansões e os terrenos são bem cercados. Isso o dará tempo de sobra para pensar em um plano de ação.
Ainda tenho esperança de que em Curitiba esteja tudo bem, mas algo me bateu a cabeça. Curitiba é uma cidade fria, claro que seus dias de calor são insuportaveis mas em geral, a noite é bastante fria mesmo, mas a noite esses troços ficam mais ativos. Será que estou me enfiando no paraíso dos zumbis? Acho que não nessa época do ano e lá temos várias bases militares, isso pode ser o motivo da contenção. Há tanques mesmo, de verdade funcionando, e não enfeites de desfiles. Armamento pesado e paiols recheados de munição e armas boas. Isso pode ser meio frio da minha parte mas esse pensamento alegrou meu dia.
A todos, cuidem-se. Repito, não atirem a não ser que seja realmente necessário, não façam barulho e a noite, cubram as janelas. Os que ainda enchergam podem ver a luz de longe e irem a direção a ela. O som também atrai eles.
Cuidem-se todos e boa sorte para nós.