terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fronteira PR/SP - pt. 2

Depois de uma noite muito bem dormida, como a muito não tinha, me sinto com mais vigor para até dar uns tiros em cabeças podres. Mas preciso relatar ainda os acontecimentos...
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A noite na guarita foi relativamente tranqüila. Mesmo me trancado em um sótão pequeno mas de bom espaço, o conforto do colchonete parecia um milagre e o travesseiro foi um achado mesmo. Fui ver pela pequena ventarola e vi o lado de fora... Tinha vários deles lá perambulando em volta. As luzes acesas durante a noite chamou mesmo a atenção deles. Por sorte ainda não me viram e também não me farejaram, isso é uma ótima oportunidade para treinar tiro ao alvo com eles. Abri o alçapão devagar para não fazer barulho e verifiquei se dentro da guarita não tinha nenhum deles, a paranóia é grande mas vai salvar minha vida.
Não tinha anda lá e lembrei do corpo da agente na entrada, meu deu um pouco de pena, imagino que ela tenha se matado no desespero e ela era muito nova ainda.
Enfim, melhor me livrar do corpo mas dessa vez vou fazer algo mais humano. Abri a porta que separava a sala de entrada do dormitório e pelo vidro fumê pude ver todos os zumbis ali andando mas eles não podiam me ver, tinha essa vantagem a meu favor. Peguei a arma que estava em sua mão que estava rígida em rigor mortis, coloquei no balcão onde estavam os controles e fui vasculhar os bolsos. Achei sua carteira e fui ver seu nome. Ao abrir a carteira uma foto pequena caiu com a foto dela abraçada com um rapaz aparentando a mesma idade e no colo uma criança pequena não aparentando mais de 1 ano... Isso me abalou muito mas tinha algo de familiar nesse rapaz. Ela usava uma aliança e quando dei por mim a foto desse moço era do mesmo zumbi que estava de olho na lanterna. O nome dela era Camila Rebeca, seu cabelo longo meio cacheado, loiro com cobre, sujo de sangue seco e sua pele meio branca meio cinza estava lá, caida no chão, imaginei que talvez ela tenha se desesperado ao ver o marido transformado, não quis nem pensar no que tinha acontecido a criança, para alguém como ela, treinada a ver muitas coisas e acidentes, tirar a própria vida, não deve ter sido nada agradável.
O nome do marido estava atrás da foto, Johnny V., na foto ele estava com rabo de cavalo, cabelo preto liso, olhos azuis, tamanho mediano, pelo que vi essa foto é meio antiga, o zumbi lá fora se assemelha muito mas está bem mais encorpado, o treinamento na polícia deve ter feito isso a ele mas aqueles olhos brancos, se ver bem, tem um tom azulado bem claro. Deve ser ele mesmo, ao pegar o microfone da mesa e apertar o botão de falar pelo auto-falante, falei o nome Johnny e ele se virou... era ele sim e pelo visto ainda tinha um pouco de memória. Ele deve ter se transformado muito recentemente então isso explicaria suas ações. Bom, tinha que dar um fim "quase" digno para a agente Camila. Peguei um cobertor no dormitório, enrolei no corpo dela, isso deu muito trabalho mas era necessário. Fiz uma espécie de mumificação com cobertor e esperei para ver se a passagem da porta da entrada estava livre e pelo visto eu estava cercado, mesmo que eles não queiram entrar, estavam lá vagando, atraídos de noite pelas luzes. Teria que esperar um pouco antes de colocá-la lá fora. Eu vi um rádio na mesa junto com um computador meio obsoleto. Tinha todas as funções de rádio de ondas curtas, deve ser com esse rádio que eles se comunicavam com a central e as viaturas. Pensei em usá-lo mais tarde, vai que dou sorte e consigo contato com alguém, talvez com o Luciano em Brasília, ele disse que talvez conseguiria um ou com qualquer outro sobrevivente. Sinto falta de ouvir outra voz.
Precisava urgente de um café e fui explorar com a curiosidade de uma criança em época de natal, a cozinha improvisada da guarita. Estranhamente estava mais preocupado em tomar um café do que com aquelas dezenas de 'podres' lá fora e sim, para minha sorte todos os agentes são viciados em café com açúcar. O fogareiro era elétrico, então o plano de explodir outro botijão já era mas pelo menos tinha como aquecer as coisas. Havia muito macarrão, miojo, molhos e enlatados, comida de acampamento mesmo para durar pelo menos uma semana. Então eu sei quanto tempo vou ficar aqui... Tem água e o banheiro é bem legal, posso finalmente tomar um banho e lavar as roupas íntimas, incrível como podemos sentir falta de meias e cuecas limpas, talvez seja por isso que minha mãe sempre me enchia o saco para me casar de novo (ha-ha)...
Enquanto a água fervia fui sujar o banheiro. Na minha mochila peguei todas as meias e cuecas que levava comigo e lavei no banho mesmo. Me senti quase normal fazendo isso, tinha bastante sabonete, shampoos, desses genéricos mesmo, desodorante e escovas de dentes de dentista do SUS e algumas pastas de dentes de uma marca que nunca ouvi falar mas enfim... Isso é mais que luxo para mim agora. Tomei um banho quente demorado, a água ia pro ralo quase marrom, estava mesmo sujo e com algumas manchas de sangue, fui lavando as peças de roupa quase que freneticamente, isso foi estranhamente relaxante, pude pensar com clareza sobre várias coisas e lembrar de tudo, uma retrospectiva de tudo que aconteceu de Brasília até aqui... Chuveiro elétrico é mesmo uma bênção, não dependo de água quente armazenada para sair logo do banho. Pude me sentir limpo de verdade depois de muito tempo.
Estendi as peças de roupa no dormitório apoiado no estrado do beliche na parte de baixo e fui passar o café. Aquilo era vida normal, mesmo que confinado em concreto, aquilo era normal, pude cozinhar um miojo com sardinha enlatada e um molho estranho que achei mas ainda na validade e comi com gosto. Sucos solúveis e água gelada no frigobar, era perfeito mas todo esse luxo tinha prazo para terminar. Uma semana, mais do que isso vai faltar comida, preciso me alimentar bem, ficar esperto para poder enfrentar essas coisas.
Voltei minha atenção ao rádio da sala de entrada, enquanto estava enrolando a massa no garfo e comendo sem prestar atenção, só olhava pro rádio e pensava com esperança se alguém iria me ouvir. Terminei de comer, coloquei a louça suja em uma bacia com água e me sentei de frente ao rádio com uma cara de palerma perdido. Esse modelo nunca vi e não faço a menor idéia de como funciona, a única coisa que sei disso aqui é o botão ON/OFF. Liguei o rádio e o som de estático ecoou pela sala, isso me deu uma sensação de isolamento ainda maior mas pelo menos não ouvia os gemidos dos mortos lá fora. Diminui um pouco o volume, não quero chamar atenção. Tinha um botão de freqüência e um outro com a função de "Scan", pelo que sei um pouco esse scan deve ser para achar sinal de rádio por aí sendo emitido, apertei ele uma vez e escutei o chiado diminuindo e voltando, alguns assovios mas nada de mais, apenas estática. Deixei o rádio varrendo os sinais em modo repetitivo e fui ver o computador. Ele estava on-line, incrivelmente funcional. Não acessava muita coisa, apenas o sistema integrado do ministério público, não tinha acesso a mais nada, nem chats, páginas sociais nem nada, apenas trabalho mesmo. tentei ver algum link de contato em tempo real mas sem sucesso. O som de estática assombrava o ambiente, me sentia totalmente isolado, essa sensação ruim estava me incomodando de verdade, estava mesmo angustiado, a sensação de isolamento estava acabando comigo até que tive a idéia brilhante de treinar tiros. Munição tinha, armas tinha e alvos, tinha um monte.
Subi até o sótão novamente, abri a caixa onde havia encontrando algumas armas e separei cada uma. Comecei com a pistola, era uma 750, eficiente mas fraca. Me deitei no colchonete e fiquei mirando pela ventarola até que dei o primeiro tiro. Acertei o pescoço de um deles, ele cambaleou bastante mas não caiu, os outros fitaram ele e começaram a olhar pros lados, um tiro de perto confunde a origem do som. Eles pararam de simplesmente vagar a esmo e ficaram em posição de 'alerta', isso foi preocupante, as reações são mesmo animalescas, eles ficaram espertos por aqui, viram um ser alvejado e procuraram a origem, alguns estavam farejando o ar, eu sei como isso funciona e torcia para que o cheiro de mofo do sótão me  escondesse do olfato deles.
Precisava chamar a atenção deles para outro lugar foi quando vi o caminhão do outro lado da estrada, imaginei que ao atirar nele o barulho iria atraí-los. E estava certo, um pouco de lógica me fez acertar um dos pneus e o barulho de ar escapando chamou a atenção deles, o movimento do caminhão tombando para o lado do pneu murchando fez com que o metal estalasse bastante e isso chamou bastante atenção deles. Eles foram em direção ao caminhão mas um ficou ali olhando pro vidro da entrada que ficava logo abaixo de mim, era o Johnny... Estranho chamar um monstro desses pelo nome mas ele tinha um e era mesmo Johnny, eu tentei imaginar o que o restinho de memória dele estava processando naquele momento, ele só podia ver seu próprio reflexo mas estava lá, como se soubesse que tinha mais coisa atrás daquele vidro espelhado escuro. Não vou atirar nele agora, ele pode ser útil em breve, eu vi o que ele pode fazer com outro desses mas agora era hora de deixar um cheiro de pólvora no ar...
*KPOW* - Acertei a cabeça daquele que estava com o pescoço perfurado e ele tombou na hora mas a atenção dos zumbis era tanta pro caminhão que nem notaram o baque do corpo no chão.
E fui atirando, sempre na cabeça...
*KPOW* *KPOW* *KPOW* *KPOW* *KPOW*
De 5 tiros derrubei 3 zumbis, até que é uma média aceitável, eu disse aceitável mas eu teria que ter derrubado 5. Economia de munição é importante e um tiro deve ser necessário para derrubar um zumbi, mas como estou com bastante munição aqui vou 'zuar' um pouco, mereço desestressar um pouco.
A mira estava boa, estranhamente eu atirava bem. Depois de brincar com a pistola parti para a ignorância e peguei a escopeta calibre 12.
*TEPAW* - O tiro era impressionante e o efeito melhor ainda, voou pedaço de carne podre para todo lado, derrubou alguns mas estavam vivos, faz bastante estrago mas só serviria para retardar um grupo de zumbis a médio alcance, melhor lembrar melhor disso.
O som da escopeta era muito forte e isso chamou a atenção de alguns deles para a guarita mas enquanto o pneu estivesse murchando o metal do caminhão estalaria e continuaria chamando a atenção deles.
Logo perderam o interesse pela guarita e continuaram olhando pro caminhão estalando, peguei a pistola de novo e atirei em outro pneu, não quero a atenção para cá, o pneu debaixo do carona era enorme e isso daria bastante tempo para chamar a atenção deles. Eu atirava bem com essa coisinha, e fui atirando e atirando, tomei um certo gosto macabro em estourar a cabeça deles, a cada cabeça aberta eu dava uma risada contida como um moleque fazendo arte escondido.
O que interrompeu essa 'diversão' foi um ruído novo no rádio. Escutei o que seria uma tentativa de voz metálica vindo da caixinha de som do aparelho. Desci correndo e fui ver o que era, a luz que indicava sinal estava piscando bem fraca e rápida, igual rádio doméstico quando encontra uma estação fraca, fui sintonizando manualmente para fazer uma sintonia fina e quando escutei uma frase que mudara todos os planos, tudo desmoronou, mesmo fraca, a voz dizia:

-... Paraná fechada... sshhhh... ...essshhhsstado ....sitiado.... ssshhhhsss ....fronteira comprometi... sssshhhhh ... repito.... comprometida....... ssssshhhhhhh.... 

Caí desesperado da cadeira, não podia crer naquilo, precisava entrar em contato com essa pessoa, era uma voz feminina.
Tentei me comunicar apertando o botão "Send" e nada, somente estática de novo.

-Alguém me escuta? Estou em um posto da PRF, alguém escuta? Estou cercado, tenho armas e munição mas estou cercado, alguém na escuta? Alguém? Meu nome é Cedric, alguém na escuta? Alô? Alô? ... ssshhhh...

Nada, nenhuma resposta, apenas estática... todas as minhas esperanças sumiram... o que eu poderia fazer? Ter o mesmo fim da Camila? Entrar em desespero, desistir depois de tão longe? Será que foi isso que ela escutou para desistir de vez?
Apenas estática, mas continuava tentando e tentando e tentando...
A luz do dia já estava indo embora e continuava tentando...
Hoje o céu escureceu mais rápido, nuvens pesadas de chuva estavam se aproximando e dava para ver a cortina cinza de água se aproximando, seria uma visão bonita se eu não estivesse tão... desesperado...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Fronteira PR/SP - pt. 1

Me enganei, fui descuidado e isso quase me custou a vida. Os passos que escutei lá fora era de um zumbi também. O que será que está acontecendo? Ele andava normal, parecia uma pessoa normal mas estava com aqueles olhos brancos e a baba viscosa e negra escorrendo manchando a camiseta. Quando me viu pulou como um animal, rugindo uma fome medonha naquele berro gutural e correu atrás de mim. Para minha sorte eles continuam idiotas e não se atentam às coisas em volta. As armadilhas com pregos que montei no corredor de acesso até a porta de entrada funcionaram muito bem. Alguns rojões com pregos enfiados na entrada funcionam perfeitamente e o metal abafa a explosão da pólvora. Ótimo, era só cortar um pouco o pavio e puxar a cordinha na altura do pé que riscava aquilo e estourava. Aqui em São Paulo tem muitas casas de fogos e aqui onde moro tem bastante. Mas vou continuar meus relatos até minha chegada.
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Depois da explosão daquela casa e a fuga com o carro até achar outro esconderijo, fiquei muito preocupado com a aparição desses zumbis mais rápidos ou menos podres. Imaginei que teriam mais correndo até minha direção.
A estrada em si estava deserta, alguns carros espalhados a esmo nos acostamentos e nada de surpreendente nas coisas que via. Portas encharcadas de sangue, vidros quebrados e alguns corpos meio devorados... normal.
A luz do dia estava indo embora, mesmo com o céu limpo o vento estava esfriando o ambiente, isso era ainda mais preocupante, clima frio ajuda essas criaturas mas era um bom sinal, São Paulo é meio frio mesmo então isso significa que estou chegando. O que normalmente demoraria por volta de 12 a 15 horas está demorando quase 3 semanas. Preciso me apressar, não quero ficar na estrada sozinho e a noite nesse frio. Não tem luz nessa parte da estrada, não tem postes e anda que indica que algum dia ali teve vida. Essa parte rural das estradas é assustadora, mesmo quando não havia zumbis por aí. O indicador de calor do motor está subindo, talvez tenha danificado o radiador naquele solavanco da casa, se continuar assim o carro vai morrer também.

(Piada interna? Espero que pelo menos meu carro vire zumbi e continue andando atrás de gasolina ha-ha...)


Parei o carro, abri o capô e realmente estava muito quente e vazava, o radiador estava bem estragado, a tela da frente estava amassado de uma forma que indicava que alguma coisa bateu de baixo para cima. Carros antigos não tinham a bandeja de proteção abaixo do radiador.
Vi aquilo e esperei alguns minutos para esfriar um pouco, pensei que teria que fazer isso de agora em diante, parar de tempos em tempos para esfriar o motor. Acendi um cigarro e fiquei olhando em volta enquanto estava sentado no teto do carro com minha arma em mãos, não sou besta de ficar com ela guardada caso aparecesse alguns desses corredores zumbis.
Estava tudo terrivelmente tranquilo, nada de mais mas a visão que tive que salvou esse resto de ano foi um pássaro voando lá no alto. Vendo agora, fazia tempo que não via outros animais perambulando por aí a não ser insetos. Foi o primeiro ser vivo que vi que realmente permaneceria vivo. Acompanhei o vôo do pássaro até ele sumir no horizonte e foi quando percebi uma estrutura pequena na beira da estrada mais à frente.
Acho que ali seria um bom esconderijo, o Sol já estava bem baixo, aquele maldito horário que, dependendo da posição, ele fica bem na cara e atrapalha a visão de qualquer um. Arranquei o capô do carro e segui até essa estrutura, pelo menos o vento iria refrescar o motor um pouco antes de derreter tudo e literalmente cair no chão como uma bola disforme de metal retorcido.
Chegando perto, era um sonho se realizando. Um posto da Polícia Rodoviária Federal. Os vidros são blindados, as paredes são fortes, tem banheiro, tem cozinha e tem VIATURAS!!! Lanternas, armas talvez? Munição? Pelo amor de DEUS, tenha café.
Tirei até uma foto com o celular para mostrar, foi um alívio tão grande encontrar um lugar protegido assim.

Tem antena de rádio, tem ar condicionado isso pode ser minha salvação. Eu sei que as viaturas estão com o tanque sempre cheio, tem 3 viaturas, uma caminhonete é perfeita para mim. Minha bagagem cresceu bastante nessa viagem e eu vi como as chuvas daqui deixam a estrada, não quero passar por aquilo de novo.
Tem 2 caminhões parados por perto, não vou ve-los, não sei dirigir bem um troço desses e não quero me arriscar. Vou passar um tempo nessa guarita mas primeiro preciso revistá-la por inteiro.
Dando uma olhada cautelosa dentro do carro ainda, não vejo anda se mexendo, isso é um bom sinal. Não vejo nenhum corpo no chão ou alguma sujeira de sangue, isso é um péssimo sinal. Parei o carro e deu para ouvir o radiador borbulhando como uma panela de pressão, acho que essa Belina aguentou bastante só para me trazer aqui. Esse é o fim dela, o motor já era e tem pouca gasolina também, mesmo com galões de gasolina no porta-malas, não abasteci porque ainda queria encontrar um carro maior.
Saí do carro e caminhei com arma em mãos, eu já estava bem com esse tipo de preparo, muitos sustos e enfrentar essa barra ao longo do tempo me deixou bem seguro para usar uma arma.
Primeiro fui ver as viaturas, estavam limpas, nada dentro, apenas o coldre da espingarda com ela dentro. Vou pegá-las assim que terminar aqui. Verifiquei outra viatura e estava tudo em ordem também. Fui ver minha querida Blazer que chamou minha atenção. Pensando bem, estou usando carros com nomes de letra B, que coisa... Ela também tinha uma espingarda, essas calibre 12 e pelo que vi atrás do banco do motorista, tinha muita, mas muita munição mesmo. Ao ver a parte de trás da caçamba, estava tudo em ordem. Tinha uma mala amarrada com um kit de resgate e um kit de primeiros socorros e alguns cones empilhados. Está tudo perfeito até então, parece que nunca forma usados, não tem nem marca de lama nas rodas ou no pára-lamas.
Preciso ver logo dentro da guarita, está ficando escuro e qualquer coisa agora é um vulto escuro. A porta estava trancada mas lembrei que vi um molho de chaves dentro da pick-up. Abri a porta e quando peguei o chaveiro, olhei pela janela do carona e tinha um ali, me olhando, os olhos brancos refletiam como olhos de um gato com lanterna, era inconfundível. Olhei logo para trás e não tinha nada, apenas aquele, não estava de uniforme mas tinha um porte físico respeitoso. Caminhava devagar mas muito certo para ser um zumbi. Soltava uns grunhidos que pareciam uma língua estrangeira mas sua expressão facial era de raiva, como de costume para os zumbis. Ele veio em minha direção dando a volta pelo carro, me afastei um pouco e acendi aquela minha lanterninha de pilha em sua direção junto com a arma. Ele parou na mesma hora e ficou na mesma posição. Ele reconheceu aquilo. Sua atenção ficou voltada para a lanterna, parou de me olhar, ele seguia a luz da lanterna. Mexi um pouco com o braço para ter certeza e sim, ele seguia com a cabeça a lâmpada da lanterna. Para cima, para baixo, para os lados, somente a cabeça, parecia um cachorro observando algo curioso, até pendeu a cabeça um pouco para o lado talvez na tentativa de "focar" melhor aquilo. Ele arfava devagar, parecia que estava relaxando... muito estranho aquilo.
Eu estava muito abismado com aquilo foi quando que no meu descuido outro zumbi aparece correndo de trás de um dos caminhões e corre em minha direção, mesmo com a arma apontada para esse zumbi mais perto iluminei o zumbi que se aproximava, a reação desse zumbi que estava perto de mim foi inusitada. Ele atacou o zumbi que vinha em minha direção. Ele segui a luz e quando viu aquele zumbi correndo sendo iluminado correu como uma besta-fera para cima. Eles brigaram como 2 animais selvagens disputando território ou comida, nesse caso, eu. Mas o zumbi que veio do caminhão estava focado em mim mesmo enquanto o outro o atacava. Não entendi aquela reação mas enfim, tinha que tirar proveito daquilo. Enquanto os dois estavam lá se atracando eu deixei a lanterna no chão iluminando aquela cena bizarra e peguei as chaves, corri até a porta da guarita e a abri. Desesperado para encontrar o interruptor no escuro para ver o que tinha dentro, estava sem a lanterna e o vidro blindado da guarita era insulfilmado, estava um breu total la dentro. Quando acendi a luz levei um susto. Tinha apenas o corpo de uma agente estendido no chão, segurando uma arma e com sua cabeça estourada. Tudo levava a crer que ela se matou. Fechei a porta e tranquei. Estava um gelo ali dentro, o ar condicionado funcionava perfeitamente mas estava na temperatura mínima. Acho que foi isso que evitou a decomposição acelerada dessa agente. Vi um painel logo abaixo dos vidros, uma mesa que ia de ponta a ponta. Achei o interruptor de luz externa e liguei. O zumbi do caminhão estava em pedaços e o outro estava ensangüentado olhando para a lanterna bem de perto, quase enfiando o nariz nela. Sua posição animalesca confirmava uma suspeita minha. Alguns transformados estavam agindo da forma mais primitiva de um humano, como um símio.
Vou deixá-lo com seu conforto de luz e vou vasculhar o resto da guarita. Não é grande mas é espaçosa, parece uma kit-net. Ao abrir a porta do que seria a entrada ou sala de controle que separa dos outros cômodos, encontrei o banheiro limpo sem uso, uma cozinha improvisada, um dormitório com um beliche com  colchonetes enrolados e cobertores pretos padronizados ao lado do banheiro. Estava tudo muito arrumado, tirando o corpo da entrada, estava tudo em ordem mas muito frio. Havia uma porta menor e mais estreita no dormitório, estava trancada, com duas trancas de chaves tetra e uma barra horizontal na sua frente apoiada em 2 ganchos. Simples mas muito eficaz.
Realmente, poderia ficar aqui por um bom tempo, essa porta, mesmo pequena, era de metal, as paredes, pelo que vi as que separa os cômodos, são bem grossas e o vidro da frente é blindado. Como que eu sei? Tem um adesivo no canto inferior esquerdo dizendo que é blindado e temperado. Simples não?
As janelas são pequenas, mas ainda da pra passar um corpo esguio por ali mas mesmo assim tem grades de ferro chumbadas nas paredes. Isso é ótimo. Estou mesmo seguro aqui. Percebi um alçapão no teto do dormitório, era um quadrado de tamanho exato para um corpo, mesmo robusto como o meu, passaria ali sem muitas dificuldades. Tive que verificar isso também. Subi no beliche e empurrei a tampa. Havia um interruptor improvisado já de cara e ao acender vi que era parecido com um sótão pequeno. Dava para ver as vigas dessa construção. Achei que era um forro mas o teto era alvenaria mesmo, forte e resistente, acho que tinham planos para um segundo andar. O sótão, mesmo pequeno, dava para se locomover agachado e havia uma janela horizontal, fina, que abria da mesma forma daqueles basculantes de janela residencial. Abaixa uma alavanca e o vidro fica na diagonal mas esse ficava inteiro reto e tinha uma caixa grande perto da janela. Tive que abrir e para minha surpresa, muitas armas. Muitas, munições e algumas algemas. Deve ser o "paiol" daqui, tinha bastante arma e munição mas pelo que notei era o suficiente para 4 ou 5 pessoas andarem bem armadas. Tinha um binóculo, isso é muito útil e já coloquei o laço no pescoço para levar comigo. Invasão por cima também está fora de cogitação, mesmo se quebrarem as telhas, o alçapão é feito de metal também e é bastante pesado e ainda tem uma fechadura. Por dentro e por fora. Isso é bom saber, qualquer coisa tenho onde me esconder e armado. Estou mesmo cansado, por via das dúvidas vou dormir aqui em cima hoje.
Desci, peguei o colchonete e o cobertor. Me dei ao luxo de pegar um travesseiro também, coloquei tudo ali em cima junto com uma garrafa de água de 5 litros lacrada que achei na cozinha improvisada e subi, tranquei o alçapão e fiquei vendo pela janelinha as coisas lá fora. Deixei as luzes acesas caso algum sobrevivente passe por aqui, pode ser irresponsável da minha parte chamar tanta atenção, afinal, são holofotes fortes para iluminar toda essa incluindo a balança dos caminhões mas prefiro saber o que está vindo do que ficar na dúvida e só escutar barulhos estranhos. Torci para que esse zumbi da lanterna ataque outros que vierem, ele é muito forte mesmo e rápido, prefiro ele atacando os outros como um cão de guarda louco do que correr atrás de mim, e lá ele ficou, olhando a lanterna acesa mesmo com tanta luz acima dele.
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Estou exausto, comi bastante e hoje dei uma olhada pela vizinhança procurando alguma coisa ou alguém mas só vejo zumbis. Não escuto tiros, barulho de carro nem de animais, somente os gemidos abafados dos zumbis andando de noite por aqui perto. Essa casa em São Paulo é um ótimo refúgio mas preciso chegar logo em Curitiba, amanhã relatarei maiores informações da guarita, preciso dormir e repor as energias, hoje tive que fugir de alguns corredores, estou evitando ao máximo dar tiros, isso atrai muito deles.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Casa da estrada - pt. 4

Consegui um tempo depois de tanta correria. Devo alertá-los de que São Paulo está o verdadeiro inferno e que realmente não tive tempo, condições ou como relatar os acontecidos. Agora estou em uma casa na zona leste, eu sei que é zona leste por um grafite no muro, não sei o nome da rua, não sei o número da casa, sua entrada é pequena e escondida, foi realmente um achado encontrar esse canto para me esconder e conseguir por em dia meu relatório de sobrevivência.
No meu último relatório estava descrevendo o que aconteceu naquela casa velha o qual encontrei um desses troços no sofá em estado avançado de decomposição e um "visitante" que infelizmente acabou se tornando um deles. Vou relatar com maiores detalhes, essa pode ser a unica coisa que sobrou da humanidade e espero que se, por um acaso, isso acabar, esses relatos sejam bem detalhados para evitarem esse holocausto novamente.
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Por fim, o camarada fechou seus olhos e o amordacei para que eu não corresse o risco de ser atacado. Posicionei a faca logo atrás de seu queixo esperando que ele "voltasse", ainda sou humano e não quero matar outro humano... Sua volta foi dolorosa e lenta, ele abriu seus olhos já esbranquiçados, não conseguia focar em nada e gemia como um animal sofrendo. Tive um certo receio de matá-lo, cara, isso não faz parte da minha natureza, mesmo sendo um monstro, ele conversou comigo, orou comigo e esperou forte por seu fim. O inevitável aconteceu, ao vê-lo naquele estado tive que enfiar a faca fundo, mesmo assim ele não morreu de vez. Ao torcer a faca ele soltou um gemido mais agudo e parou de se mexer.
Ainda tinha que me preocupar com o que ele havia me dito antes, alguns dos zumbis o seguiu durante o caminho, e esses eram rápidos, carne ainda fresca e uma fome sem fim. Teria que me preparar para esse confronto já que, segundo ele, eram 5 ou 6 que estavam correndo para cá. Tinha que pensar rápido, tinha que fortificar essa casa de madeira de alguma forma e tinha que me preparar para dar muitos tiros e correr, mas correr muito.
Estava amanhecendo, por aqui amanhece cedo mesmo, os raios do Sol já tocavam o chão e eu ali pensando, meu sono sumiu como por milagre, meu estado de nervos me mantinha em alerta constante e mesmo assim não me sentia cansado. Não suava, estava quente e mesmo assim não suava. Todo e qualquer barulho me chamava atenção.
Eu sei que os efeitos desse stress todo um dia vão acabar me matando do coração mas agora não é hora de pensar em morrer e sim pensar em como não morrer.
Tive um plano meio doido, espero que isso funcione ou eu nem chego a virar zumbi, pensei de imediato naquele botijão de gás... a única frase que passou pela minha cabeça foi: -"Cara, isso vai dar merda!"
Meu plano era idiotamente simples, fechar todas as janelas, trancar tudo e deixar apenas um meio deles entrarem e quando entrarem, trancá-los lá dentro e BUM, simples não?
Não, definitivamente não mas vamos tentar fazer essa loucura. O desespero é uma das mães da genialidade estúpida.
Coloquei o botijão na entrada da cozinha, ficava perto da janela mas decidi por mais próximo da entrada onde estaria os possíveis zumbis. Fechei todas as janelas, algumas com dificuldade, a madeira era velha e parecia que algumas não eram mexidas a anos, suas travas eram simples mas eficientes e depois de todas as janelas voltei minha atenção à porta. Tinha que arrumar um jeito de trancá-la bem e por fora. Assim, quando todos eles estivessem dentro, seria trancá-los e BUM. Ta, ok, admito que estou empolgado em explodir alguma coisa e fazer muita bagunça.
Antes de sair da casa para planejar mais alguma coisa dei uma olhadela pelas frestas da janela. Era de dia e estava incrivelmente ensolarado, pela minha experiência, isso iria reduzir bastante o ritmo dos zumbis, espero que reduza bastante mesmo, para me dar tempo de executar meus planos ou pelo simples fato de apodrecê-los no caminho e não ser perseguido por zumbis ligeiros.
A barra estava limpa, não tinha nada lá fora se mexendo, apenas a poeira da estradinha que ligava esse terreno até a estrada que graças a Deus estava seca mas isso atolou meu carro. As rodas estava até a metade enterradas, ainda mais essa, como tirar o carro de perto da explosão?
Para minha sorte a tração da Belina é traseira, foi só colocar um monte de mato atrás das rodas e acelerar com tudo dando a ré. Funcionou, ainda bem que funcionou. Os solavancos do carro saindo dos buracos foi feio, escutei algo se partindo mas não vou me preocupar agora com isso, preciso resolver esse problema da porta.
No lado de fora da casa eu vi alguns entulhos, vi um pedaço de madeira que serviria de calço para a porta, quando entrarem, era só colocar o calço na parte inferior da porta entre ela e o chão e voi lá, porta trancada ou bastante difícil de abrir.
Agora a pior parte... servir de isca... Essa não foi a parte mais "planejada" por assim dizer. Tinha que dar um jeito de atrair os zumbis, sair e trancar a porta para depois dar um jeito no botijão. Sair pela janela do quarto está fora de questão, o mato lá atrás é denso e não vou me expor a uma área de risco então eu reparei que o chão era de madeira também, de tábuas e essa casa estava erguida por colunas de tijolos que a deixava consideravelmente acima do solo. Isso me deu uma ótima idéia. Se esgueirar por baixo da casa e de surpresa trancar a porta e BUM. Mais bum, eu sei, eu sei, não me reprimam, estou mesmo animado para explodi-los.
Tirei algumas tábuas do chão e fui dar uma olhada no que tinha embaixo. Tirando alguns insetos medonhos que normalmente vivem nesse ambiente, não havia mais nada além de mato. Mato ralo ainda, pouco Sol não deixa as plantas crescerem muito.
Vi que poderia engatinhar tranquilo até ao lado da escada de entrada e trancar a porta. Testei esse caminho algumas vezes para me certificar que estaria realmente preparado para engatinha rápido. Alguns ralados no joelho e sujeira na mão não iriam me matar.
Agora estava quase pronto, poderia atraí-los para a casa, deixar com que entrem, ficarem se batendo na porta do quarto que espertamente tranquei com o guarda roupas velho na frente e aguardar. Tinha que me livrar do corpo desse camarada com a faca no queixo, joguei simplesmente para fora da casa. Destrancar a janela foi odioso, esqueci de jogar o corpo fora antes, mas tinha que fazer, não quero nada fedendo aqui enquanto eu estiver por aqui. Joguei o corpo fora, saiu rolando pelo mato e lá ficou, ao começar a fechar a janela escutei alguns gritos vindo de longe, me arrepiei na hora, deu para sentir até a pupila dilatar de medo. Não pensei que chegariam tão rápido e pelos urros, eram muitos, mas muitos mesmo. Tive que colocar em prática o plano bem antes do previsto, e nem sabia como iria fazer aquela porcaria de botijão explodir. Dane-se, dou um jeito na hora. Antes de terminar esse pensamento escutei a porta da frente sendo empurrada, a casa toda rangia, isso era uma grande vantagem para mim. Fiquei em silêncio e parado só escutando as criaturas entrarem.
Passo a passo eles iam entrando, escutava seus gemidos, urros e outros sons que eu esperava que saíssem de ex-vivos humanos.
Lembrei na hora que sons e cheiros o atraiam, nessa hora comecei a suar e nessa mesma hora ouvi uma batida na porta, como um soco mole de um bêbado querendo entrar em casa e sem forças para por a chave na fechadura. Essa imagem quase me fez rir na hora.
E ouvia mais e mais socos na porta, não parava mais, quase mandei todos pararem mas isso seria uma grande burrice. Eles sentiram meu cheiro, óbvio, estava com uma 'asa' desgraçada e a roupa iria por conta própria para a lavanderia se eu deixasse. O rangido da escada cessou, isso significa que estavam todos dentro da casa, ouvia passos rápidos, alguns lentos e gritos fortes, a garganta desse estava inteira ainda e isso não é bom sinal. Esse era recém transformado e arfava, como uma pessoa enraivecida, nunca havia escutado isso antes, arfava como um animal...
Era hora de por o plano em prática. Comecei a dar pisadas fortes no chão para atraí-los até a porta e funcionou bem, muito bem. Os socos na porta soavam quase como uníssono, não tinha mais pausas entre as batidas, estava furiosos atrás de mim e o guarda roupas estava tremendo com tantas pancadas. Se estivesse só a porta certamente já estariam aqui dentro. Arranquei as tábuas do chão, coloquei uma música que achei no computador para tocar bem alto em looping para continuar atraindo eles e me joguei para debaixo da casa. Olhei rápido em volta para ver se não tinha mais nada se esgueirando mas nada, estavam mesmo dentro da casa. Coloquei as tábuas no lugar sobre minha cabeça e quando terminei de encaixar a última no lugar um estrondo fez a casa toda tremer. Esmurraram tanto a porta que derrubaram o guarda roupas e para minha sorte caiu bem em cima das tábuas que eu havia soltado para fugir por debaixo. Ao olhar nas frestas do chão deu para ver os zumbis se aglomerando em volta do computador para saberem o que é aquilo. Muitos estavam com aparência de vivos ainda, aquilo me deixou mal, havia crianças ali no grupo.
Tinha que aproveitar dessa distração extra e correr até a entrada para fechar a porta. Consegui engatinhar muito rápido, depois de alguns treinos me senti o máximo naquilo. Já perto da escada rolei para fora e em um pulo fui fechar a porta quando vi um garoto parado em pé na minha frente bem na porta. Aquilo me assustou um bocado, não imaginava aquilo, ele não foi atrás do som, ficou olhando a porta... Ao me ver ele quase fez uma expressão de susto também e urrou, se preparou para pular em mim como um gato, fiquei ali parado vendo aquele guri cinza com olheiras e magrelo me encarando como comida, o urro dele atraiu a atenção dos outros que estavam no quarto. Em um pulo saiu um deles, ele tinha feições grotescas, era enorme e ficou parado rosnando para mim em uma posição que lembrava muito um macaco. Acho que foi instinto, tirei a arma da cintura e acertei a cabeça do garoto, o outro grandalhão ficou vendo ele no chão e depois me encarou com mais raiva ainda, babava uma coisa viscosa negra e o cheiro de podre era muito forte, mesmo aparentando ser recém transformado. Quando vi que ele se contraiu para pular fechei a porta e segurei com o ombro até colocar o calço, senti um baque tremendo na porta, chegou a doer o ombro com a pancada e escutava os berros dele vindo de trás. Batia cada vez mais forte na porta e quando consegui calçar a porta o último murro dele fez com que a porta rachasse. Não tinha mais tempo, aquela porta não ia aguentar. Tive tempo o bastante para olhar para os lados e ver se não tinha mais nenhum parado por ali, e não tinha. Tive que arrumar um jeito de explodir logo aquele botijão mas nada me veio a cabeça. Corri para perto da janela da cozinha e de cabeça tentei mirar a posição do botijão e atirei. Errei, isso fez com que eles viessem até a cozinha e certamente a janela não iria aguentar as pancadas. Tinha mais 4 tiros, foi na sorte que acertei no próximo tiro, só escutei o som de metal e do gás vazando. Já era um bom sinal mas a janela começou a sacudir, um dos zumbis estava empurrando querendo arrombar a janela para me comer. Atirei o resto das balas até comecei a escutar um som parecido com aquele som de isqueiro com inseticida. Quando você faz um lança-chamas caseiro, toda criança já fez essa asneira e o efeito do botijão foi o mesmo. O som de fogareiro me aliviou um pouco e os gritos e urros dos zumbis soavam como desespero, me afastava da casa temendo pela explosão e escutava o botijão rolando e girando, a pressão do gás estava fazendo ele se mexer e rodar soltando aquele fogo todo. Quando começou a sair fumaça da casa corri até o carro, me tranquei por dentro e tentei dar a partida. Ficava vendo a casa tentando dar a partida desesperado, não quero estar perto se explodir. A janela da cozinha estourou com o pulo de um dos zumbis que corria em pânico pegando fogo, se não matasse na explosão pelo menos queimava eles até os ossos. Ele correu rápido demais até que começou a usar ajuda dos braços para correr, realmente parecia um chimpanzé correndo, aquilo foi grotesco e me deixou muito no que pensar. Ele corria muito, sem direção definida, apenas corria, será que sentia dor?
Seu corpo estava totalmente coberto pelo fogo, ele não via, não cheirava nem ouvia, já deve ter consumido todas as mucosas da cabeça mas ainda corria muito. Consegui dar a partida no carro e acelerei sentido São Paulo, pelo menos havia me livrado desses zumbis, fiquei vendo pelo retrovisor se nada iria correr atrás de mim mas nada, só vi a casa começando a pegar fogo e a fumaça preta encobrindo o Sol ali, até que simplesmente BUM, explodiu, mas explodiu forte, deu para sentir a onda da explosão nos vidros do carro, foi uma explosão linda na verdade, era isso que eu queria ter visto, não sobrou nada, deu para ver pedaços de carnes meio carbonizadas caindo em todas as direções, caiu uma no capô que chegou a amassar um pouco. Fui acelerando mais para aproveitar o máximo possível da luz do dia até achar outro esconderijo, não quero me arriscar a passar uma noite na estrada sabendo que tem zumbis como esses por aí.
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Tenho que interromper agora o relato, escutei passos aqui perto e não são passos errantes, acho que tem algum sobrevivente aqui perto e preciso verificar.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Casa da estrada - pt. 3

Acho que cochilei novamente, nem me preocupei com a pessoa lá dentro do quarto. Não sei se é um deles, se é um sobrevivente que viu a janela aberta como uma oportunidade para se esconder...
As botas estão secas e as meias também, vou calçá-los e averiguar o que é afinal de contas. Calço as botas, me preparo psicologicamente e vou até a porta do quarto fechado.
Destranco e abro vagarosamente com a arma apontada apontada para onde possivelmente estará o corpo, com as mãos trêmulas vou abrindo a porta e encontro ali o corpo. Não parece um deles, está respirando com uma certa dificuldade, não vi dessas coisas respirando, suponho que seja um sobrevivente, a luz está fraca mas da para ver os movimentos do corpo. Cutuco com o cano da arma a cabeça e ele acorda, ao se virar vejo que ele está bastante ferido, seu rosto está arranhado e tem uma marca profunda no ombro. Pergunto quem é ele e como chegou aqui e ele me diz que fugiu de um bloqueio da estrada logo mais atrás e se escondeu no mato.
Imaginei até que bloqueio seria, deve ter sido aquele ao qual passei, onde havia vários carros parados, mas se era um bloqueio, por que todos os veículos estavam no acostamento? Essa era uma pergunta que eu preferi guardar para mim mesmo e o deixei falar.
Ele foi falando, com dificuldade e pedi muito por água, dizia que estava com uma sede interminável, que estava com frio, dava para ver seu corpo tremendo de frio mesmo, suava muito e sentia o calor da febre ao chegar perto. Ainda me disse que foi atacado por um bando dessas coisas, que correram atrás dele e um o arranhou e mordeu. Eu sabia o que isso significava, esse sujeito estava condenado a se transformar em um desses. Eu teria que atirar nele mas precisava de maiores informações, talvez dar a ele um final de vida mais confortável, não posso virar um monstro desalmado com sobreviventes, mesmo que tenham apenas algumas horas de vida.
Ele me disse que estava vindo de São Paulo, a cidade virou um caos, um surto populacional de zumbis da noite para o dia. Os primeiros infectados foram os moradores de rua, poucos desconfiaram do comportamento por se tratar de mendigos aparentemente bebados ou drogados até que começaram a atacar as pessoas. A polícia foi acionada mas atacaram em bandos, ninguém está psicologicamente preparado para um ataque de mordidas animalescas ou unhas. A polícia rapidamente foi tomada e em seguida as ambulâncias, os serviços de urgência foram os primeiros a serem tomados e consequentemente a população.
Acidentes com o metro, ônibus e outros meios de transportes coletivos haviam sido alvos dos ataques deles, muita gente e pouco espaço para fuga. Ele contava com lágrimas nos olhos, deve ter visto coisas horríveis.
Comentou que muitos prédios começaram a pegar fogo, o pânico tomou conta da capital paulista, pessoas pulavam das janelas, igrejas eram invadidas, casas eram saqueadas, correria e por fum um apagão na cidade. Não havia energia e qualquer ponto de luz era seguido pelos zumbis. Perguntei como que a luz simplesmente foi cortada e ele me disse que o exército havia cortado a energia como forma de sitiar a cidade mas isso acabou ajudando mesmo os monstros, ele me disse que viu vários deles farejando o ar, alguns se moviam como animais, corriam com a ajuda das mãos e braços, que pareciam gorilas enrivecidos. Alguns pulavam e eram muito ágeis, corriam em bando para caçar qualquer criatura de sangue quente. Cães, gatos e outros animais eram comidos também.
Contei que em Brasília não estava assim, os zumbis eram lerdos e não havia nenhum correndo ou com alguma característica que ele descreveu.
Ele não falava direito, devia estar muito cansado mesmo, bebia litros de água e ainda reclamava da sede. Disse que poderia me ajudar a fechar a janela do quarto, o que ele me disse realmente me preocupou, não quero nenhum homem-macaco zumbi pulando essa janela. Fechamos e levantamos a cama para tapá-la, era um ponto cego na casa ao qual não queria arriscar a segurança.
Ele se sentou no sofá, expliquei a ele o que havia acontecido aqui, ele não ligou muito, estava ofegante e cansado, perguntou para onde eu estava indo. Disse que estava indo para Curitiba, que tinha escutado notícias de que lá a epidemia estava contida e tinha conhecidos e abrigo lá. Me perguntou ainda se tinha transporte mas disse que estava atolado, mesmo com a chuva diminuindo precisava esperar a lama secar um pouco para sair com o carro. Estava preso ali mesmo.
Ele notou minha aflição, perguntou porque estava tão nervoso, eu sabia que pessoas mordidas eram transformadas naquilo, parece que ele não sabe e pelo visto a doença estava bem avançada já em seu corpo. Seu suor não era mais apenas água, era quase viscoso, ele estava ficando pálido e fraco, não conseguia manter os olhos abertos por muito tempo. Ele tinha um cheiro de sangue e carne velha, não cheiro de carne podre mas um cheiro que me lembrou açougue em dias quentes, não era agradável. Por fim ele fechou os olhos.
Apontei a arma para sua cabeça esperando ele "voltar", engatilhei e fiquei esperando, tinha que me controlar, não levar susto, ser sangue frio, manter o controle das mãos e dos nervos, ainda assim eu tremia, minha respiração ficou pesada, só escutava a chuva que diminuia, o vento que ainda estava forte lá fora mexendo as folhagens do mato e o pulsar forte do meu coração no ouvido. Senti o suor escorrer na minha testa e acumular nas sombrancelhas, estava mesmo nervoso mas não poderia vacilar.
Senti minhas pernas tremerem, acho que se precisasse correr agora eu cairia, não tinha mesmo o que fazer, só esperar pelo inevitável.
Ele abriu os olhos mas sua respiração ainda soltava vapor devido ao frio, quase atirei e ele se assustou ao abrir o olho e ver aquela arma apontada para sua cara. Com uma cara de espanto e cansado ele me perguntou o que eu estava fazendo. Expliquei que ele vai virar um daqueles zumbis, pessoas mordidas viram mais rápido e as arranhadas também, mas demora um pouco mais para a infecção se espalhar.
Ele baixou os olhos, ele sabia que eu estava certo, acentiu com a cabeça e pediu para que eu esperasse ele deixar de ser um vivo antes de atirar nele.
Confirmei com a cabeça e lhe dei um cigarro, estava acabando mas era o único luxo naquela hora e naquele lugar. Ele fumou, bebeu meu café e esperou. Começou a me falar de tudo que havia visto em São Paulo.
Seus relatos eram assustadores, pessoas correndo ensanguentadas, zumbis caçando como animais, dando bote ou em grupo. Ele me disse que tinha perdido as esperanças quando um certo dia parou de ouvir tiros pela cidade. Ele estava escondido em um apartamento alto, no centro de São Paulo, que via tudo acontecendo pela janela, tiros e gritos, explosões, corpos queimando na rua e alguns correndo mesmo pegando fogo. Parece que atear fogo em zumbi não adianta muito coisa, não de imediato. O exército nas ruas atirando, foram cercados e devorados. Não sobrou nada, apenas zumbis na rua, andando sem rumo farejando o ar, olhando para os lados procurando por algo. De noite só ouvia os gemidos da cidade, estava tudo silencioso, nenhum tiro, nenhuma evidência de resistência, nada. Foi quando ele decidiu fugir, pegou seu carro, aproveitando os raros momentos de "sonolência" dos zumbis e correu. Ele me disse que ao olhar pelo retrovisor viu vários deles correndo atrás por vários quilômetros, disse que acelerou e foi embora pela estrada mas que estava muito assustado e bateu com o carro em outro veículo parado no caminho. O carro continuou andando mas super aqueceu e parou na estrada. Ficou andando por horas pelo acostamento tentando achar um lugar seguro mas não conseguiu. Disse que algumas horas depois ele viu o mesmo bando de longe, correndo pela estrada, estava na trilha dele ainda e estava correndo muito rápidos e alguns corriam com a ajuda dos braços. Foi quando ele se escondeu no mato e veio correndo por ele, no desespero não pensou direito, apenas correu pelo mato e via eles correndo em sua direção, disse que correu por vários quilômetros até achar a janela e pular dentro e acordar com a minha arma apontada para ele.
Quando ele contou isso ele se tocou, parece que ele viu minha expressão, eu havia arregalado os olhos e ele só pode soltar um palavrão baixinho.
Ele mesmo disse que se ele estava aqui, os zumbis seguiram seu rastro até aqui.
Perguntei como, onde e quando ele havia sido mordido, ele disse que quando estava entrando no carro um deles pulou sobre o carro e o atacou.
Só pude dizer que ele havia muito pouco tempo como vivo mas mesmo assim não poderia atirar nele, o barulho iria atrair os que seguiram. Ele parou para pensar e surpreendentemente me falou para fazer uma coisa: Amarrá-lo, amordaçá-lo e matar de novo mas de outro jeito que não chame atenção. Aceitei a proposta, ele pediu desculpas por ter atraido essa confusão para cá e que não queria mais correr, estava cansado e começando a ficar com um sono estranho. Procuramos pela casa com o que amarrá-lo mas não encontramos cordas. Não iríamos sair da casa para procurar do lado de fora. Fomos até o quarto e abrimos o armário, vi sapatos com cadarço, isso iria servir. Tinha alguns cintos também, isso iria ajudar.
Amarrei suas mãos para trás com os cadarços, deixei bem preso e seus pés também. Disse que para previr iria amarrar seu pescoço na cama levantada no estrado, ele poderia ficar sentado mas quando voltar como um deles, não teria como se mexer muito, ele aceitou e disse para eu ser rápido, ele estava sentindo seu corpo enrigecer, seus lábios estava azulados e estava com a pele totalmente pálida até agora. Isso me lembrou a cena daquela moça em Brasília, a moça do mercado. Os sintomas eram iguais e em menos de 10 minutos estava comendo seu colega de trabalho.
Lá estava ele, amarrado, preso como um animal que iria se transformar e me olhou. Fitou bem em meus olhos e chorou, pedindo perdão pelo trabalho e pelo provável trabalho que vai me dar depois. Sentei na sua frente e agradeci pela companhia, fazia tempo que não conversava com ninguém e que era bom escutar outro humano para variar. Me sentia péssimo com aquilo tudo mas era necessário e ele mesmo percebeu que era necessário.
Ele só pediu para que antes amordaçá-lo, esperasse ele parar de respirar, não queria morrer assim. Ele disse que queria fazer uma oração pela sua alma e pela minha, agradeci sua gentileza e o deixei com sua oração.
Enquanto escutava o murmurinho do quarto eu sabia que ainda estava vivo mas agora, aqui na cozinha, precisava encontrar algo para matá-lo de vez. Não tinha nada, encontrei uma frigideira mas isso não iria fazer muito efeito e o barulho chamaria muito atenção.
Encontrei uma faca de cozinha, não era como aquelas grandes de carne mas tinha um bom tamanho de lâmina. Agora comecei a pensar em como cravar essa faca na cabeça dele.
Quando me dei conta eu estava péssimo, estava planejando a maneira de matar uma pesoa que estava orando por mim... No que me tornei...
Meus pensamentos foram cortados com a tosse seca e fraca dele vindo do quarto. Sabia que estava chegando a hora, não tinha jeito, teria que improvisar na hora.
Ao chegar no quarto, eu não mostrei a faca, não queria que isso fosse sua última visão como vivo. Ele me olhou com muito esforço, com um sorriso de canto de boca e falou "amém", e sua cabeça pendeu para frente. Peguei o pano de prato que tinha achado antes para o café, enrolei e amordacei sua boca morta. Agora é só esperar sua volta, tirei a faca da cintura e medi o tamanho da lâmina entrando logo atrás do queixo até em cima, o tamanho foi suficiente para passar dos olhos, isso iria matá-lo de vez com certeza. Posicionei a faca atrás de seu queixo e esperei ele se mexer...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Casa da estrada - pt. 2

O som de um trovão me fez dar um pequeno pulo sentado. Acho que peguei no sono, mesmo de noite, isso foi um erro. Consegui passar café lavando um pano de prato velho que encontrei, não ficou lá aquela maravilha mas melhor que nada. Com a iluminação de apenas 1 vela no meio da sala para não chamar muita atenção, olho em volta. Pelo barulho a chuva está diminuindo gradativamente mas ainda está forte. As goteiras se tornaram verdadeiros tormentos, não posso por nada embaixo para segurar as gotas por causa do barulho, as poças nessa casa só não estão maiores porque o assoalho velho deve ter mais buracos do que o próprio telhado.
Me levanto com dores nas costas e formigamento nas coxas, dormir sentado não é bom, as dores musculares estão ficando cada vez mais fortes, acho que a tensão e a descarga constante de adrenalina estão fazendo com que meus músculos fiquem doloridos mais ainda.
Como ainda tem sinal aqui, dei uma olhada rápida nos relatos de outros sobreviventes, Luciano parece bem e a Anna cortou o cabelo, parece que encontraram uma vizinha em uma casa mais afastada no telhado segurando uma arma de grosso calibre.
Brasília... fico imaginando como deve estar o casal de aposentados que tão gentilmente me hospedaram em sua casa. Será que estão bem? Será que estão precisando de ajuda? Temo pelo pior...
Prefiro manter o foco na minha ida para Curitiba, a esperança de que a doença esteja contida é grande mas com o tempo acredito que eu tenha cometido uma grande bobagem em me aventurar na estrada sozinho em um estado de alerta mundial.
A folhagem do mato atrás da casa está muito agitada, o vento está bastante frio, mesmo dentro da casa, minha respiração está saindo como vapor, não estou sentindo muito frio, um desconforto leve apenas nos pés, tive que tirar a bota e pendurar as meias em um varal improvisado que fiz na sala. Ficar com uma bota molhada por muito tempo no pé é uma péssima idéia.
Muito das coisas que quero agora estão no carro, não imaginei que ficaria mais do que algumas horas nessa casa e agora já se vão mais de 24 horas aqui ilhado pela lama que, pelo menos, não subiu mais.
Toda essa folhagem se movimentando lá fora pelo vento me deixa agoniado, fico imaginando os horrores que deve ter por lá, milhares e milhares deles andando alí, perdidos, sentindo um cheiro bem leve de carne humana já que o vento não permite que eles faregem melhor. Algumas gotas maiores de chuva caem na lama fazendo um barulho parecido com passos, sem ritmo, parece muito com o andar deles. A paranóia que me consome de noite tem me dado dores de cabeça horríveis e estou sem nada para isso, aspirina, dorflex, nada, absolutamente nada. Creio que o máximo de medicamento que possuo é o kit de primeiros socorros veicular, faixas, água oxigenada e esparadrapos. Se eu me cortar feio estou bem pelo menos.
O vento continua uivando lá fora, a sensação de abandono e isolamento tem me deprimido um pouco, as vezes me pego pensando alto, achando que estava apenas na cabeça mas estou falando pela boca, enquanto não estiver falando sozinho creio que eu ainda esteja bem psicologicamente.
Fico lembrando do meu filho, está a salvo na europa estudando, deve estar a parte de todo esse problema nas américas, deve estar muito preocupado comigo mas não faço a menor idéia de como entrar em contato com ele. Tentei e-mails e nada, sempre diz que a caixa postal está bloqueada. Alguns sites europeus não estão sendo mostrados dizendo que o acesso é restrito. Será que bloquearam todos os IPs daqui?
Não duvidaria, bloquear o acesso totalmente envolve fisicamente e eletronicamente. Deve ter algum motivo para isso mas não possuo um conhecimento de informática tão avançado assim para burlar esse bloqueio.
Fico pensando também nessa moça que me deparei aqui nessa casa. Quem era ela? O que ela fazia?
Ainda tudo silencioso, fora a chuva claro. Esse suspense me mata, notei que estou com um tique nervoso no polegar da mão direita. Ele fica tremendo e de repente ele da um "joinha". Poderia ser por, poderia ser um tique no dedo do meio...
Esse pensamento positivo vai acabar me atrapalhando...
Tem algo na janela do quarto que fechei. O som claro que mãos molhadas batendo e se apoiando no beiral da janela me preocupa. Isso significa que esse zumbi é um dos inteiros, chego lentamente perto da porta com a arma em mãos e fico escutando o som que sai de dentro do quarto. Escuto o roçar da roupa pela janela, está entrando mas lentamente, com muito esforço, parece que está quase dentro.
O som de corpo caindo no chão de forma desengonçada foi bem nítido e o som que esta me apavorando é de corpo se arrastando pelo chão até a porta. Uma arranhada na porta, é agora, vou ter que atirar, vou ter que fazer barulho, vou ter que engolir seco e tomar coragem.
Um baque seco no chão e silêncio. Não está mais vindo som nenhum. A porta está trancada de qualquer forma, tenho essa pequena vantagem, pelo visto esse pode ser um dos inteiros mas está meio chumbado nas pernas. Vou verificar isso quando amanhecer, não quero um confronto no escuro.
Vou sentar ao lado da porta com a arma na mão, não quero correr riscos desnecessários, minha respiração está acelerada, como não tem mais som nenhum, consigo escutar meus batimentos no ouvido, meu corpo treme e minha mão mais ainda, espero que seque logo minha bota e as meias, não quero correr por aí descalço.
Estou com medo... com medo e sozinho.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Casa da estrada - pt. 1

Sai um pouco da estrada, o sinal no celular do WiFi estava mais forte, isso significa que estou chegando perto. Tem alguns morros por aqui, geralmente as casas ficam na base deles ou no alto, espero que esta esteja no alto. Fui buscando, vi algumas casas mas nenhuma com "aparência" de casa com sinal de internet WiFi, a chuva está chegando, começou a cair algumas gotas finas no pára-brisa, não vejo nenhum zumbi andando, isso é um ótimo sinal.
Encontrei a casa, o sinal aqui é muito mais forte. A estradinha de terra começando a virar lama, acredito que fiz uma grande burrada vindo pra cá, a chuva está engrossando e a Belina não está andando como deveria, estou atolando, agora que estou aqui, melhor entrar na casa.
Não sei o que vou encontrar, com o carro parado na lama a pouco mais de 3 metros da porta de entrada, desligo o farol mas mantenho o motor ligado, ainda tem luz natural mas a nuvem que se aproxima vai deixar tudo escuro.
Me cnho de coragem, carrego minha arma e saio do carro. Nada se mechendo além de mim, o vento está ficando mais e mais forte, a chuva agora já cai pesado. Vejo para os lados, algumas outras casas sem luz, a estrada alí atrás nenhum movimento e a casa na minha frente completamente silenciosa. Até onde posso ouvir com o barulho de água caindo nessas telhas velhas e na lataria do carro. Essa chuva realmente está com cara de que vai durar um bom tempo e realmente dirigir com ela não seria uma boa.
Armo a arma, destravo e sigo em direção à porta.
Incrível como pode escurecer rápido aqui. Ainda são 5 da tarde mas essa nuvem de chuva realmente está grande. Toda a terra em volta do terreno já virou lama, minha bota está atolando e meus passos estão muito pesados.
Essa casa de madeira provavelmente não aguentaria uma manada, mas como não vi nenhum zumbi até agora, não preciso me preocupar já com isso.
Apenas uma janela na frente, uma atrás e uma do lado. Uma janela pequena, suficiente para entrar ou sair uma pessoa mas ela é alta, isso é ótimo, terei uma visão mais ampla do terreno mas infelizmente atrás é um matagal fechado. Essa antena parabólica do lado significa que mesmo sendo simples, essa casa pode receber vários tipos de sinais, talvez, com sorte, consiga informações em algum canal, algum sinal de vida fora daqui.
Essa sensação de isolamento tem mechido comigo, me sinto só, com medo, preocupado com meu filho e a cena dos funcionários daquele mercado em Brasília morrendo ainda me assombra na memória.
O vento está vindo mais frio, isso significa que estou mesmo bem mais próximo do sul, minha respiração começa a sair em forma de vapor, meu óculos está cheio de gotas na lente... melhor entrar.
A casa está escura, a porta não estava trancada, isso é um péssimo sinal. Acendo minha lanterna e não vejo nada. Andando devagar, sabendo que a sola dura da bota junto com a lama faz um som estranho, acho que meus barulhos estão sendo abafados com o barulho da chuva na telha. Encontrei um interruptor, não vejo nada de errado.
Ao acender, vejo no meu lado esquerdo um sofá velho meio marrom com um corpo muito magro. Aquele corpo deve estar ai a um bom tempo, incrivelmente não fede. Já deve estar meio mumificado, sua pele cinza e esticada mostra seu estado de podridão avançado. A casa é pequena então posso verificar melhor a residência.
Fui para a cozinha, o assoalho de madeira range bastante, as paredes de madeira com uma pintura bege descascada mostra a infiltração. Não vejo quadros ou fotos na parede, a cozinha está empoeirada e o armário de madeira acima da pia está entre aberto. Há um botijão de gás e ao virar o botão simples de quatro bocas vejo que ainda tem gás. Tem apenas 1 quarto, ele é grande, uma cama de casal desarrumada, sem sinal de sangue. A janela do quarto que dá pro matagal está aberta e pelo visto, está aberta a um bom tempo. A mistura de poeira e água da chuva fez uma lama cinza que escorre pela beirada da janela e formou uma poça logo abaixo. Encontrei o computador, estava ao aldo do armário do quarto, um armário estilo antigo, madeira maciça, de cor escura e muito alto. Tem 6 portas e pega quase a parede inteira e quase alcança o teto. Sim, é um computador simples e com internet, o cabo que sai da parede vem de fora, possivelmente é daqueles via satélite para zonas rurais.
Dou uma olhada pela janela, só vejo mato e a copa das árvores dançando conforme o vento forte da chuva. O barulho é muito alto, a casa não tem forro e há pequenas goteiras pela casa.
Tenho que me livrar desse corpo no sofá, não quero nada disso perto de mim. Ao chegar perto, cutuquei com a arma sua cabeça e nada de reação. Cutuquei, chutei, balancei o sofá e nada, aquilo era realmente um morto MORTO.
Pelo visto era uma moça, esta com um vestido simples de tom amarelado desbotado, o cabelo castanho escuro estava bem emaranhado e naõ tinha sapato. Não sei o nome, não sei como ela era. Estranhamente essa casa não tem fotos. Os móveis rústicos da sala estão vazios, tem uma televisão velha de 14 polegadas de frente ao sofá. Não tem marca de nada além disso. Apenas poeira. Essa casa não tem movimento há dias, possivelmente semanas.
Vou jogar esse corpo lá fora, Seus braços magros de pele rígida não se mechem, vou ter que carregar pegando no tronco mesmo... detestei a idéia.
Ao sentar o corpo, saiu um gemido muito baixo da boca dela mas não mecheu a cabeça nem se movimentou, apenas gemia como um deles. Deu para ver que tentava abrir a boca mas estava muito rígida. É claro que só analisei isso depois de me recompor ao cair para trás com o susto deixando sair um gritinho que eu não gostaria de descrever agora.
Aquilo estava lá, sentado, por minha culpa, gemendo e tentando mecher a boca. Sua cabeça fazia um esforço descomunal para se virar para mim e apenas um de seus olhos estavam abrindo. Alguns dedos começaram a se mecher estalando, som de ossos estalando estavam cada vez mais frequente saindo daquele corpo. Eu ainda estava no chão, olhando aquela monstruosidade se esforçando para se mecher e me comer mas fiquei pasmo, não se era medo ou simplesmente estava fascinado com aquilo tudo, só sei que não pensei direito e quando dei por mim ela já estava tentando se levantar, com dificuldade mas conseguiu seus movimentos de volta. Na queda minha arma caiu, não sei para onde mas estou desarmado. Melhor dar um chute nisso, estou com botas militares, isso tem que servir.
Ao me levanar sua cabeça me acompanhou, sempre mirada em mim, erguento com dificuldade o braço, gemendo e com aquela expressão "preciso me alimentar de você". O "freio moral" que todos nós temos antes de chutar a cabeça de uma moça, foi-se.
O chute pegou na testa e isso derrubou-a no sofá. O som de osso quebrando foi agoniante, não foi nada legal. Tive um impulso idiota de perguntar a ela se estava tudo bem mas lembrei que ela não estava bem fazia pelo menos umas 2 semanas.
Ela se curvou para frente de novo, e dei outro chute, mas esse foi lateral, queria que ela caisse no chão. O nervoso e a tensão fez com que minha perna doesse um pouco, os meus músculos não estão preparados para esse tipo de combate o tempo todo. Antes de me lamentar o quanto estou fora de forma, melhor eliminar logo essa desgraça. Comecei a pisar na cabeça, com força, pisei várias vezes até que o som de crânio quebrando saiu dalí do chão. Pise mais e mais, um momento de insanidade correu meu corpo e não quis parar até me dar conta que não havia mais nada alí onde era a cabeça, apenas um amontoado de cabelo com uma gosma escura que se completava com um tronco e um corpo cinza com um vestido amarelo desbotado.
Agora que me livrei desse impecílio, tenho que tentar achar minha arma, jogar esse corpo fora e pensar melhor, me recompor por completo. Minhas mãos estão tremendo, sinto um frio na barriga de nervoso, parece que cometi um crime, me sinto culpado, me sinto um monstro em ter esfarelado a cabeça de uma moça pisando em cima sem parar.
Antes de abrir a porta dou uma olhada nas frestas entre as tábuas que fazem a janela da sala da entrada, não tem nada lá, somente chuva, vento, a Belina e lama. O pouco de luz natural que ainda tem lá fora já está sumindo como filetes de luz azul no horizonte, não sei que horas são agora mas é noite e é hora deles ficarem mais ativos.
Abri a porta com uma certa dificuldade, a madeira molhada está raspando no chão, pelo visto isso não é de agora, tem a marca de madeira raspada formando um semi círculo no chão onde a porta raspou, isso fez um barulho medonho mas ainda bem que essa chuva é mais barulhenta. Joguei o corpo lá fora na lama, não quero essa coisa por aqui, ainda tive que arrastar pelas pernas e empurrar aos chutes.
Sei que tem uma pequena casa ao lado dessa, a pintura está mais acabada e espero que não tenha nada lá. Um zumbi por dia para mim é o suficiente. Vou fechar a porta do quarto, a janela está aberta e não quero correr riscos, achei minha arma no chão perto da porta, ela escorregou bastante até aqui, pelo visto meu susto foi bem maior. Pensando bem, tive muita sorte desse zumbi ser um daqueles bem detonados, já estava bem debilitado e não conseguia se mover direito. Se fosse um daqueles inteiros, eu estaria em pedaços agora.
Vou dar uma olhada na cozinha, está bem escuro lá fora, não dá para ver nada. Bisbilhotando a cozinha simples, percebi que só tem esse armário de duas portas acima da pia, não tem mais nada além do fogão. Não tem geladeira, talvez essa esteja na casa ao lado. Se ainda tem luz, deve ter alguma coisa nela. Ao abrir a pia saiu uma água barrenta, já estava xingando tudo quando começou sair limpa, muito tempo parado a sujeira do cano acumulou mas agora está limpa, no armário pequeno tem uma caixa de metal com café, essa foi a coisa mais linda que eu vi nos últimos dias. Coloquei água para ferver e comecei a preparar o café.
Ao procurar o filtro, não achei nada. Nem filtro de papel nem filtro de pano, nada. A água fervia, o vapor da água quente condensava na parede atrás do fogão e o pó ali, cheirando bem.
-Filho da puta!!!
Comecei a rir quase que histéricamente, consigo xingar um café mas tive pena de um zumbi...

domingo, 7 de novembro de 2010

Estrada - pt. 5

Nenhum problema, pude dormir um pouco mesmo, descansar e até fumar um cigarro. Sinto falta de café na verdade.
Na estrada tem pouco movimento, estranho faliagem serar isso, tem pouco ou nenhum movimento. A viagem será longa e pelo visto quase não tem carros pela frente, vou poder acelerar um pouco e tentar chegar mais rápido a Curitiba.
A passagem por São Paulo que me preocupa, lá é bem mais povoado e isso significa que lá é bem mais "zombizado", terei que andar sem parar por um bom tempo. O trecho urbano é longo e isso realmente me preocupa. A estrada passa dentro da cidade...
Demorei para relatar pois não encontrei mais nenhum sinal WiFi por perto. A bateria do notebook acabou e a do meu celular está acabando. Esse lance de procurar sinal esgota a bateria mais rápido mas tenho que continuar tentando, se der um sinal, terei uma idéia de onde terá comunicação.
Continuo na Anhanguera, está limpo a estrada, dá pra rodar bem. Estranhamente não vi nenhum zumbi por aqui, alguns carros parados com sangue sim mas morto andando, não.
Devo estar perto de outra residência com sinal, senão não poderia estar postando aqui. Vou ver a origem desse sinal, talvez uma casa agora seria uma boa, vai chover bastante, vejo nuvens carregadas vindo em minha direção e mesmo dentro do carro, não quero arriscar um temporal dentro dele. Pode ser seguro mas mesmo assim, a visibilidade fica ruim e se for cercado não vou conseguir ver muita coisa.
Andei um bocado, vai anoitecer em breve e o vento frio que vem também me preocupa, na verdade muita coisa hoje me preocupa, vento frio significa mais morto ativo. Mais morto ativo significa caçada e estou muito cansado para dar tiros hoje que graças a Deus não dou um tiro faz tempo.
Me despeço de todos aqui e vou procurar essa casa com sinal, espero encontrar alguém vivo ou um fogão funcionando com água e pó de café.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Estrada - pt. 4

Não tinha nada naquela parada. Fiquei quilômetros sem sinal nenhum. O modem 3g que veio com o notebook não tem sinal algum também.
Nada, nem um sinal de movimento, pois falar sinal de vida hoje em dia é relativo.
Vários carros parados, muitos com o motorista morto ao volante ainda. Parece que outros sobreviventes já passaram por aqui e pegaram a gasolina, não tenho nada e não me atrevo a pegar nenhum desses carros para mim também, além do cheiro forte de podre, não sei se terá "surpresas" enquanto mudo as coisas de lugar.
Por algum milagre consegui um sinal WiFi aqui na estrada, devo estar perto de alguma casa com sinal, mesmo aqui no meio do mato mas não vou me arriscar.
Pela minha experiência, é melhor saber se tem alguém vivo em uma casa quando se escuta tiros, caso contrário... nem me preocupo. Está quente, não tem nuvens no céu e o Sol está brilhando como nunca havia notado. Isso vai fazer com que os zumbis estejam mais lerdos agora, posso dormir um pouco. Dirigir de noite pode parecer perigoso mas não preciso me preocupar em usar farol alto e não vou correr mesmo, apenas me manter em movimento para não bater nos outros carros parados que estranhamente não tenho vistos muitos na estrada e sim no acostamento.
Quero chegar logo na Rod. Anhangüera, talvez eu encontre mais pessoas ou um carro melhor para seguir viagem.
Antes de dormir um pouco vou armar meu "alarme", consiste em 4 cones com uma linha presa nas pontas cheio de latas vazias penduradas em volta do carro.
Qualquer movimento perto disso faz um barulho muito alto e chato de latas batendo. Isso funciona, vai por mim, evitou um ataque surpresa ao carro.
Carro cercado pelas latas, arma engatilhada e chave na ignição. Dormir por algumas horas até começar anoitecer, essa noite não vai ser tão fria mas ainda assim é mais fresco e eles ficam mais ativos e é melhor não ficar parado nessas horas.
Espero que os outros estejam bem em Brasília, Minas e Bolívia.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Estrada - pt. 3

Estou na BR-050, pelo mapa vou ter mais de 200 km de viagem. Nesse ritmo vou chegar sabe-se lá Deus quando mas vou chegar. Estou vendo vários caminhões parados nas estradas, não sei o que tem debaixo das lonas, tenho até medo de saber. Espero que seja somente soja e essas coisas.
Houve movimentação debaixo de uma delas, ao visto, alguns caminhões estavam transportando pessoas para longe dos centros urbanos, se tinha algum infectado entre eles... bom, melhor nem pensar.
Vi relatos de outros sobreviventes, em MG tem uma família em uma pedreira com um bebê, isso me preocupa, vou passar por perto na viagem, quero ver se posso ajudá-los. Na Bolívia tem mais sobreviventes, alguns estrangeiros, não podem voltar para seus países, mesmo sendo europeus, avião já era.
Passei por um trecho onde a BR-050 foi duplicada recentemente, as marginais estão apinhadas de carros parados, alguns eu vi que tem zumbis dentro.
Mais para frente é possível que eu encontre mais carros parados, esses tanques reservas que enchi foram muito úteis mas esse carro bebe demais. Modelos antigos costumam ser beberrões, quero ver se encontro outro carro grande assim para viajar. A média de 7 km/l não é uma boa, tenho que parar para ver se esses carros parados têm gasolina e pegar um pouco para mim.
A viagem tem sido relativamente tranquila. Tem poucos na estrada. Atropelei alguns por diversão mesmo, espero que meus pequenos atos de vandalismo ajude a diminuir o número dessas pragas.
O que me tem dado um nó na garganta é ver crianças nesse estado. Estranhamente elas são mais rápidas, deve ser pela pouca carne e musculatura e seu tamanho, apodrecem devagar e isso as mantém ativas por mais tempo.
Esses trechos urbanos me preocupam, espero sair logo disso. Os trechos onde só tem mato, dos 2 lados me aliviam, não vi zumbis saindo de trás de uma árvore mas de trás de um poste ou carro parado, vi vários. Eles estão tocaiando mesmo, um pulou na frente do carro em movimento.
Vi uma cena do lado esquerdo que me deixou de cara, um grupo de zumbis comendo um corpo já estragado. Zumbis comendo zumbis? Será que a fome é tanta que quando um zumbi não anda mais ele é comido?
Se nos transformamos em um deles quando somos mordidos, o que acontece com os zumbis que comem carne já infectada?
Melhor pensar que não vai acontecer nada, mas minha paranóia me diz que vai dar merda. E das grandes. Espero que se comam mesmo, assim será mais fácil eliminar os restantes.
Sai do trecho urbano, mais para frente vi alguns carros parados no acostamento. Mas sai do trecho urbano, isso alivia mesmo.
Pelo que vi, até onde a vista alcança é só mato, isso é ótimo. Esses carros do acostamento, porque tantos? Será um acampamento de sobreviventes? Espero que sim, se for, podemos trocar informações e até mesmo   poder ajudar alguém. Espero que esteja tudo em ordem. Poucos sabem da meleca que dá quando simplesmente arranhado.
A mordida já deve ser bem clara para os sobreviventes, mordeu? Morreu!
Amém por essa estrada estar tão conservada, muito pouco carro no caminho mesmo. Imagino que os sobreviventes tenham ido para os trechos urbanos para se esconder e deu no que deu.
Nas cidades há vários carros parados no caminho mas aqui, nos trechos do mato, é bem tranquilo. Poderia até escutar um som se eu não estivesse com o rádio de ondas curtas ligado direto.
Nenhuma transmissão, nenhum contato. Essa sensação de isolamento é meio deprimente.
Pelo menos sei que há outros, mas estamos tão afastados um dos outros que a única forma de se não se sentir isolado é lendo os relatos deles.
Luciano, meu primeiro camarada sobrevivente, parece bem. Conseguiu uma casa no SMPW. As casas lá são realmente grandes, são mansões e os terrenos são bem cercados. Isso o dará tempo de sobra para pensar em um plano de ação.
Ainda tenho esperança de que em Curitiba esteja tudo bem, mas algo me bateu a cabeça. Curitiba é uma cidade fria, claro que seus dias de calor são insuportaveis mas em geral, a noite é bastante fria mesmo, mas a noite esses troços ficam mais ativos. Será que estou me enfiando no paraíso dos zumbis? Acho que não nessa época do ano e lá temos várias bases militares, isso pode ser o motivo da contenção. Há tanques mesmo, de verdade funcionando, e não enfeites de desfiles. Armamento pesado e paiols recheados de munição e armas boas. Isso pode ser meio frio da minha parte mas esse pensamento alegrou meu dia.
A todos, cuidem-se. Repito, não atirem a não ser que seja realmente necessário, não façam barulho e a noite, cubram as janelas. Os que ainda enchergam podem ver a luz de longe e irem a direção a ela. O som também atrai eles.
Cuidem-se todos e boa sorte para nós.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Estudos...

Reparar os zumbis não é uma tarefa fácil. Ou você ri muito das besteiras que eles fazem ou você simplesmente vomita. Claro que independente do humor, o cheiro nos faz vomitar. Um lápis e um caderno que carreguei na minha mochila foi o suficiente para certos estudos, e para vocês sobreviventes que não fazem idéia de como eles funcionam, vou colocar um pequeno manual de instruções:

A visão da maioria já era. Os olhos ressecam rápido ou são removidos / comidos. Eles caçam pelo olfato, seu nariz fica dilatado o tempo todo e sua expressão de fúria é constante quando estão "caçando".
Os traços humanos continuam forte, alguns podem assustar mais pelas feridas, ossos quebrados ou pelo odor mesmo.
Temos zumbis recentes que ainda mantém o aspecto de vivo, podendo ser confundido sendo visto de longe, pois os recentes não andam aos tropeços, na maioria dos casos.
Esses podem dar passos mais rápidos, não houve casos de um deles correndo mas não ficaria surpreso se visse um correndo.


Eles andam sem destino mesmo até que sintam cheiro de comida (nós).
Não possuem uma postura de andar muito ortodoxa, pelo visto seu senso de equilibrio já era então usam os braços e partes do corpo curvados para se manter em pé. Seu corpo é mais frágil, pode-se acabar com um deles facilmente com uma pá, bastão, canos de ferro ou outros objetos de impacto. Evitando sempre, claro, sangue espirrado na cara ou feridas expostas. Eles podem ter um corpo mais frágil mas de alguma forma possuem uma força muito além da nossa. Conseguem rasgar a pele com uma certa facilidade, suas mordidas são profundas e suas unhas arranham bastante também. Um só pode não fazer muita coisa mas quando estão caçando, o bando é muito perigoso. Uma pessoa empurrando um muro não faz muita diferença mas quando são 300, muda totalmente de figura. Não tem o que pare uma multidão de zumbis caçando. Pode demorar, mas eles derrubam qualquer coisa.
Vou estudar mais um pouco esses caras, novidades eu coloco aqui, caso tenham alguma informação útil, por favor, compartilhem.

Estrada - pt. 2

Após horas dirigindo já estou na BR-040. Não que eu esteja dirigindo devagar mas tenho que desviar de muitos carros parados por aí. Alguns estão com um desses troços na direção, nem olham pros lados, ainda devem achar que estão dirigindo, resquícios de memória? Talvez, mas pude notar que alguns no caminho estavam fazendo coisas normais como martelar uma cerca de madeira que vi a poucos metros atrás, isso me deu medo, se começarem a agir com mais inteligência poderemos ter sérios problemas.
Notei que os zumbis mais frescos, os que morreram a pouco tempo, se locomovem bem melhor, alguns chegam a desviar do caminho quando vou com o carro, me olham fixamente e não tentam correr atrás, de alguma forma esses sabem que é perda de tempo.
Durante o dia eles ficam mais lerdos mas ao entardecer quase noite, eles ficam mais ativos. Talvez porque esteja mais fresco e assim sua decomposição desacelera.
Para minha sorte estou em uma estrada tranquila, pouco usada, tem poucos carros pelo caminho, poucos zumbis e agora estou em um posto de gasolina. Havia um outro alguns quilômetros atrás, mas era grande demais e estou evitando lugares grandes assim, era um desses postos hotel, cheio de caminhão parado no pátio, alguns com a porta ainda aberta e vi um zumbi frentista, tive que rir ao ver aquele troço andando com a mangueira na mão tentando encher um tanque invisível, era patético e isso me fez pensar ainda mais na hipótese de resquício de memória.
Com meu celular tirei uma foto de um deles, tirei em preto e branco para amenizar a imagem, se algum sobrevivente visse o que eu vi... Eu fiquei enjoado, não imaginei que "aquilo" ainda se mechia.
Não tinha mais boa parte da pele, alguns órgãos ja desapareceram, ossos a mostra. Estava sem os olhos e não tinha mais nariz, achei que ele não iria me notar mas quando cheguei perto ele começou a se mecher. Temo que sintam vibração também.
Agora nesse posto, tem poucos mesmo e estão muito pouco melhores do que esse aí.
Aqui não deve ter alimento para eles a um bom tempo e como esta fazendo calor sua decomposição está acelerada.
Tive que rir de outra cena inusitada, um zumbi muito nervoso afastando os pássaros que queria bicá-lo.
Esses pássaros carniceiros não estão apresentando nenhum sinal de infecção, no final, eles podem ser um aliado e tanto para minha sobrevivência.
O que me preocupou foram alguns animais que vi pelo caminho também, cavalos e bois abertos, comidos, acho que nossos colegas acinzentados estão variando seu cardápio na falta de humanos. Até o momento, somente um cachorro ficou infectado, espero que termine nessa espécie mas notei que aqui não tem nenhum cachorro vadiando... e era para ter.
Sentado no chão encostado em uma geladeira que milagrosamente ainda funciona mas que está vazia, fico vendo o tempo passar, gostaria muito de poder dormir bem de novo mas estou assustado demais, preocupado demais e paranóico demais.
Esse posto é pequeno mas tem bastante combustível. Achei alguns galões vazios, vou enchê-los e colocar no carro também, quero evitar de ficar parando, já perco tempo demais desviando de carros e caminhões pela estrada e nunca se sabe se 15 litros de gasolina pode servir para algo mais do que abastecer uma Belina.
Podemos achar sinal WiFi onde menos esperamos não é mesmo?
O notebook que peguei em Brasília tinha um daqueles modens usb, sinal de celular, mas se o meu não pega, como ter certeza que aquele pegaria? Mais tarde eu tento, por enquanto uso meu celular mesmo, é mais rápido.
Meu corpo dói, tensão muscular acumulada, se eu achar uma farmácia vou saquear todos os dorflex dela.
Recebi contato do Luciano, ele e a guria estão bem, pelo que vi no relato dele, sua casa foi cercada e alguns conseguiram derrubar o portão. Muitos empurrando vira uma força descomunal, é com isso que eles garantem sua ida para onde querem sem se preocupar com barreiras.
Está anoitecendo, hora de partir, mesmo os zumbis mais podres ficam mais ativos, é bastante quente de dia mas a noite tem feito muito frio também.
Estou indo para uma cidade fria, mas muito fria mesmo, espero que realmente esteja contido essa infestação lá.
Para os sobreviventes que passarem por aqui, vou deixar a imagem do posto, preciso deixar esses pontos marcados para que mais sobreviventes saibam o que fazer.
Ele é espaçoso, tem bastante área aberta para poder vigiar tranquilo e tem bastante combustível. Não vá para as construções de trás, escutei gemidos mas as portas e janelas estão lacradas com tábuas.

sábado, 23 de outubro de 2010

Estrada - pt. 1

Minha mochila está pronta, agora é só chamar os velhos, convence-los de que ficar aqui não é uma boa idéia. Eles realmente não querem ir, estão cansados, tristes e estão esperando já pelo pior.
Me deram a Belina, como o velho sempre foi muito certinho, até me entregou os documentos do carro, isso realmente não precisava agora mas aceitei para faze-lo feliz.
Dei mais uma olhada para a rua através do portão, nenhum zumbi, nada mesmo, a casa da frente tinha alguns murmurinhos mas nada de assustador, as outras casas estavam em silêncio e tudo ao redor estava quieto. Ele me deu um relógio de pulso também, isso seria ótimo, ficar tirando o celular para ficar vendo as horas do bolso é uma perda de tempo constante.
Um boné também foi me dado e perguntei se o velho queria a arma dele de volta. Disse que não precisava, ele tinha outra de calibre maior em posse.
Olhei para a velha Belina, estava inteira, muito bonita mesmo, fico lembrando se ela aguenta o mesmo tranco que o meu carrinho alugado aguentou, acho que sim.
A diferença entre um Uno e uma Belina é grande. A lataria é mais resistente, tem mais espaço interno e o porta-malas é enorme, baixando o banco traseiro posso dormir a vontade. Me despedi dos velhos, entrei no carro e cheguei bem perto do portão para que ao abrir não de muito tempo para o portão ficar aberto. Olhei para eles tentando esboçar esperança, desci a rampa da garagem, manobrei e parti. Andando devagar para ver se nada pule em direção a eles enquanto o portão fecha, mas estava tudo limpo. Passei pela lombada, acelerei um pouco e fui embora. Não tenho mais sinal por aqui então o próximo relato será em breve em um posto de gasolina "tranquilo" que eu achar pelo caminho. Por enquanto não tem muitos carros parados por aqui mas sei que vou encontrar vários pelo caminho.
Acendedor de cigarros no painel... fazia tempo que não via um desses, vai ser meu melhor amigo daqui a diante.
Estr. Epdb lá vou eu...

Traçando a rota

Atualização para mostrar a rota caso algum sobrevivente ache minha idéia boa.
O mapa é simples:
A rota pode ser um pouco confusa mas não é tão complicado.

1.Siga na direção oeste na Shis Qi 21
88 m
2.Vire à esquerda para permanecer na Shis Qi 21
130 m
3.Pegue a primeira à direita para permanecer na Shis Qi 21
400 m
4.Vire à direita na Estr. Epdb
110 m
5.Faça um retorno
2,0 km
6.Continue para Via Epdb
450 m
7.Continue para Estr. Epdb
Passe por 1 rotatória
14,6 km
8.Pegue a saída em direção a Estr. Epia
72 m
9.Mantenha-se à direita na bifurcação para continuar em direção à Estr. Epiae pegue a Estr. Epia
9,6 km
10.Continue para Rod. Epia
3,2 km
11.Continue para BR-040
104 km
12.Pegue a rampa de acesso para a BR-050
222 km
13.Continue para R. Manoel Jacinto
270 m
14.Continue para BR-050
27,3 km
15.Continue para Estr. p/ Catalão
2,2 km
16.Vire à esquerda na Estr. p/Uberlândia
2,8 km
17.Continue para BR-050
Passe por 1 rotatória
27,4 km
18.Pegue a saída em direção a Av. Antônio Thomas Ferreira Rezende
130 m
19.Vire à direita na Av. Antônio Thomas Ferreira Rezende
45 m
20.Continue para BR-050
2,5 km
21.Pegue a rampa de acesso para a R. Florestano de Macedo Tibery
3,1 km
22.Continue para BR-050
Passe por 1 rotatória
133 km
23.Continue para Rod. Anhangüera
Estrada com pedágio em alguns trechos
65,3 km
24.Continue para Via Anhangüera
6,5 km
25.Continue para Rod. Anhangüera/Via SP-330
Estrada com pedágio em alguns trechos
276 km
26.Continue para Rod. dos Bandeirantes
Estrada com pedágio em alguns trechos
78,3 km
27.Sair na Estr. Chica Luísa
400 m
28.Pegue a rampa de acesso para aRoan. Mário Covas
Estrada com pedágio em alguns trechos
26,6 km
29.Pegue a saída para a Rod. Régis Bittencourt
374 km
30.Curva suave à direita na BR-116 Pista Lateral
500 m
31.Na rotatória, pegue a  saída para a rampa de acesso à Av. Victor Ferreira do Amaral
43 m
32.Pegue a Av. Victor Ferreira do Amaral
1,3 km
33.Continue para R. Quinze de Novembro
2,2 km
34.Vire à direita na R. Mariano Torres
180 m
35.Vire à esquerda na R. Cnso. Araújo
86 m
36.Continue para R. Pres. Carlos Cavalcanti
550 m
37.Vire à esquerda na R. Barão do Serro Azul
180 m
38.Pegue a rampa de acesso para a Tv. Nestor de Castro
260 m
39.Vire à direita na R. do Rosário
24 m
Claro que não preciso dizer que podemos ignorar solenimente os pedágios. Aconselho que não andem muito depressa, poderá ter vários carros parado na estrada, poderemos encontrar alguns desses zumbis. Rezo para que os postos estejam com combustível e óleo. Se não for pedir muito, água também. Essa viagem será meio longa, calculo em torno de 20 horas ou mais, dependendo dos acontecimentos. Se for dirigir de noite, não pare em hipótese alguma, devemos sempre lembrar que esses monstros nos farejam, não precisam muito do olho para enchergar a noite. Nunca ande sozinho, tenha sempre um co-piloto para alternar os turnos de direção ou para eventuais disparos ou para dar cobertura caso precisemos ir em um posto de gasolina.
Rota traçada, vou começar a me preparar para a viagem, vou abastecer o carro com mantimentos, vi que o marcador de gasolina está quase no cheio, poderemos ir longe antes de precisar abastecer. Melhor por algumas garrafas de água no carro embaixo do banco, pode ser útil. No mais, vou tentar reforçar de alguma forma o pára-choque desse carro para podermos empurrar outros carros parados na pista.
Vou planejar outros detalhes e atualizo quando possível.
-
Sem contato com outros sobreviventes, isso tem me preocupado.