quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Estrada - pt. 3

Estou na BR-050, pelo mapa vou ter mais de 200 km de viagem. Nesse ritmo vou chegar sabe-se lá Deus quando mas vou chegar. Estou vendo vários caminhões parados nas estradas, não sei o que tem debaixo das lonas, tenho até medo de saber. Espero que seja somente soja e essas coisas.
Houve movimentação debaixo de uma delas, ao visto, alguns caminhões estavam transportando pessoas para longe dos centros urbanos, se tinha algum infectado entre eles... bom, melhor nem pensar.
Vi relatos de outros sobreviventes, em MG tem uma família em uma pedreira com um bebê, isso me preocupa, vou passar por perto na viagem, quero ver se posso ajudá-los. Na Bolívia tem mais sobreviventes, alguns estrangeiros, não podem voltar para seus países, mesmo sendo europeus, avião já era.
Passei por um trecho onde a BR-050 foi duplicada recentemente, as marginais estão apinhadas de carros parados, alguns eu vi que tem zumbis dentro.
Mais para frente é possível que eu encontre mais carros parados, esses tanques reservas que enchi foram muito úteis mas esse carro bebe demais. Modelos antigos costumam ser beberrões, quero ver se encontro outro carro grande assim para viajar. A média de 7 km/l não é uma boa, tenho que parar para ver se esses carros parados têm gasolina e pegar um pouco para mim.
A viagem tem sido relativamente tranquila. Tem poucos na estrada. Atropelei alguns por diversão mesmo, espero que meus pequenos atos de vandalismo ajude a diminuir o número dessas pragas.
O que me tem dado um nó na garganta é ver crianças nesse estado. Estranhamente elas são mais rápidas, deve ser pela pouca carne e musculatura e seu tamanho, apodrecem devagar e isso as mantém ativas por mais tempo.
Esses trechos urbanos me preocupam, espero sair logo disso. Os trechos onde só tem mato, dos 2 lados me aliviam, não vi zumbis saindo de trás de uma árvore mas de trás de um poste ou carro parado, vi vários. Eles estão tocaiando mesmo, um pulou na frente do carro em movimento.
Vi uma cena do lado esquerdo que me deixou de cara, um grupo de zumbis comendo um corpo já estragado. Zumbis comendo zumbis? Será que a fome é tanta que quando um zumbi não anda mais ele é comido?
Se nos transformamos em um deles quando somos mordidos, o que acontece com os zumbis que comem carne já infectada?
Melhor pensar que não vai acontecer nada, mas minha paranóia me diz que vai dar merda. E das grandes. Espero que se comam mesmo, assim será mais fácil eliminar os restantes.
Sai do trecho urbano, mais para frente vi alguns carros parados no acostamento. Mas sai do trecho urbano, isso alivia mesmo.
Pelo que vi, até onde a vista alcança é só mato, isso é ótimo. Esses carros do acostamento, porque tantos? Será um acampamento de sobreviventes? Espero que sim, se for, podemos trocar informações e até mesmo   poder ajudar alguém. Espero que esteja tudo em ordem. Poucos sabem da meleca que dá quando simplesmente arranhado.
A mordida já deve ser bem clara para os sobreviventes, mordeu? Morreu!
Amém por essa estrada estar tão conservada, muito pouco carro no caminho mesmo. Imagino que os sobreviventes tenham ido para os trechos urbanos para se esconder e deu no que deu.
Nas cidades há vários carros parados no caminho mas aqui, nos trechos do mato, é bem tranquilo. Poderia até escutar um som se eu não estivesse com o rádio de ondas curtas ligado direto.
Nenhuma transmissão, nenhum contato. Essa sensação de isolamento é meio deprimente.
Pelo menos sei que há outros, mas estamos tão afastados um dos outros que a única forma de se não se sentir isolado é lendo os relatos deles.
Luciano, meu primeiro camarada sobrevivente, parece bem. Conseguiu uma casa no SMPW. As casas lá são realmente grandes, são mansões e os terrenos são bem cercados. Isso o dará tempo de sobra para pensar em um plano de ação.
Ainda tenho esperança de que em Curitiba esteja tudo bem, mas algo me bateu a cabeça. Curitiba é uma cidade fria, claro que seus dias de calor são insuportaveis mas em geral, a noite é bastante fria mesmo, mas a noite esses troços ficam mais ativos. Será que estou me enfiando no paraíso dos zumbis? Acho que não nessa época do ano e lá temos várias bases militares, isso pode ser o motivo da contenção. Há tanques mesmo, de verdade funcionando, e não enfeites de desfiles. Armamento pesado e paiols recheados de munição e armas boas. Isso pode ser meio frio da minha parte mas esse pensamento alegrou meu dia.
A todos, cuidem-se. Repito, não atirem a não ser que seja realmente necessário, não façam barulho e a noite, cubram as janelas. Os que ainda enchergam podem ver a luz de longe e irem a direção a ela. O som também atrai eles.
Cuidem-se todos e boa sorte para nós.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Estudos...

Reparar os zumbis não é uma tarefa fácil. Ou você ri muito das besteiras que eles fazem ou você simplesmente vomita. Claro que independente do humor, o cheiro nos faz vomitar. Um lápis e um caderno que carreguei na minha mochila foi o suficiente para certos estudos, e para vocês sobreviventes que não fazem idéia de como eles funcionam, vou colocar um pequeno manual de instruções:

A visão da maioria já era. Os olhos ressecam rápido ou são removidos / comidos. Eles caçam pelo olfato, seu nariz fica dilatado o tempo todo e sua expressão de fúria é constante quando estão "caçando".
Os traços humanos continuam forte, alguns podem assustar mais pelas feridas, ossos quebrados ou pelo odor mesmo.
Temos zumbis recentes que ainda mantém o aspecto de vivo, podendo ser confundido sendo visto de longe, pois os recentes não andam aos tropeços, na maioria dos casos.
Esses podem dar passos mais rápidos, não houve casos de um deles correndo mas não ficaria surpreso se visse um correndo.


Eles andam sem destino mesmo até que sintam cheiro de comida (nós).
Não possuem uma postura de andar muito ortodoxa, pelo visto seu senso de equilibrio já era então usam os braços e partes do corpo curvados para se manter em pé. Seu corpo é mais frágil, pode-se acabar com um deles facilmente com uma pá, bastão, canos de ferro ou outros objetos de impacto. Evitando sempre, claro, sangue espirrado na cara ou feridas expostas. Eles podem ter um corpo mais frágil mas de alguma forma possuem uma força muito além da nossa. Conseguem rasgar a pele com uma certa facilidade, suas mordidas são profundas e suas unhas arranham bastante também. Um só pode não fazer muita coisa mas quando estão caçando, o bando é muito perigoso. Uma pessoa empurrando um muro não faz muita diferença mas quando são 300, muda totalmente de figura. Não tem o que pare uma multidão de zumbis caçando. Pode demorar, mas eles derrubam qualquer coisa.
Vou estudar mais um pouco esses caras, novidades eu coloco aqui, caso tenham alguma informação útil, por favor, compartilhem.

Estrada - pt. 2

Após horas dirigindo já estou na BR-040. Não que eu esteja dirigindo devagar mas tenho que desviar de muitos carros parados por aí. Alguns estão com um desses troços na direção, nem olham pros lados, ainda devem achar que estão dirigindo, resquícios de memória? Talvez, mas pude notar que alguns no caminho estavam fazendo coisas normais como martelar uma cerca de madeira que vi a poucos metros atrás, isso me deu medo, se começarem a agir com mais inteligência poderemos ter sérios problemas.
Notei que os zumbis mais frescos, os que morreram a pouco tempo, se locomovem bem melhor, alguns chegam a desviar do caminho quando vou com o carro, me olham fixamente e não tentam correr atrás, de alguma forma esses sabem que é perda de tempo.
Durante o dia eles ficam mais lerdos mas ao entardecer quase noite, eles ficam mais ativos. Talvez porque esteja mais fresco e assim sua decomposição desacelera.
Para minha sorte estou em uma estrada tranquila, pouco usada, tem poucos carros pelo caminho, poucos zumbis e agora estou em um posto de gasolina. Havia um outro alguns quilômetros atrás, mas era grande demais e estou evitando lugares grandes assim, era um desses postos hotel, cheio de caminhão parado no pátio, alguns com a porta ainda aberta e vi um zumbi frentista, tive que rir ao ver aquele troço andando com a mangueira na mão tentando encher um tanque invisível, era patético e isso me fez pensar ainda mais na hipótese de resquício de memória.
Com meu celular tirei uma foto de um deles, tirei em preto e branco para amenizar a imagem, se algum sobrevivente visse o que eu vi... Eu fiquei enjoado, não imaginei que "aquilo" ainda se mechia.
Não tinha mais boa parte da pele, alguns órgãos ja desapareceram, ossos a mostra. Estava sem os olhos e não tinha mais nariz, achei que ele não iria me notar mas quando cheguei perto ele começou a se mecher. Temo que sintam vibração também.
Agora nesse posto, tem poucos mesmo e estão muito pouco melhores do que esse aí.
Aqui não deve ter alimento para eles a um bom tempo e como esta fazendo calor sua decomposição está acelerada.
Tive que rir de outra cena inusitada, um zumbi muito nervoso afastando os pássaros que queria bicá-lo.
Esses pássaros carniceiros não estão apresentando nenhum sinal de infecção, no final, eles podem ser um aliado e tanto para minha sobrevivência.
O que me preocupou foram alguns animais que vi pelo caminho também, cavalos e bois abertos, comidos, acho que nossos colegas acinzentados estão variando seu cardápio na falta de humanos. Até o momento, somente um cachorro ficou infectado, espero que termine nessa espécie mas notei que aqui não tem nenhum cachorro vadiando... e era para ter.
Sentado no chão encostado em uma geladeira que milagrosamente ainda funciona mas que está vazia, fico vendo o tempo passar, gostaria muito de poder dormir bem de novo mas estou assustado demais, preocupado demais e paranóico demais.
Esse posto é pequeno mas tem bastante combustível. Achei alguns galões vazios, vou enchê-los e colocar no carro também, quero evitar de ficar parando, já perco tempo demais desviando de carros e caminhões pela estrada e nunca se sabe se 15 litros de gasolina pode servir para algo mais do que abastecer uma Belina.
Podemos achar sinal WiFi onde menos esperamos não é mesmo?
O notebook que peguei em Brasília tinha um daqueles modens usb, sinal de celular, mas se o meu não pega, como ter certeza que aquele pegaria? Mais tarde eu tento, por enquanto uso meu celular mesmo, é mais rápido.
Meu corpo dói, tensão muscular acumulada, se eu achar uma farmácia vou saquear todos os dorflex dela.
Recebi contato do Luciano, ele e a guria estão bem, pelo que vi no relato dele, sua casa foi cercada e alguns conseguiram derrubar o portão. Muitos empurrando vira uma força descomunal, é com isso que eles garantem sua ida para onde querem sem se preocupar com barreiras.
Está anoitecendo, hora de partir, mesmo os zumbis mais podres ficam mais ativos, é bastante quente de dia mas a noite tem feito muito frio também.
Estou indo para uma cidade fria, mas muito fria mesmo, espero que realmente esteja contido essa infestação lá.
Para os sobreviventes que passarem por aqui, vou deixar a imagem do posto, preciso deixar esses pontos marcados para que mais sobreviventes saibam o que fazer.
Ele é espaçoso, tem bastante área aberta para poder vigiar tranquilo e tem bastante combustível. Não vá para as construções de trás, escutei gemidos mas as portas e janelas estão lacradas com tábuas.

sábado, 23 de outubro de 2010

Estrada - pt. 1

Minha mochila está pronta, agora é só chamar os velhos, convence-los de que ficar aqui não é uma boa idéia. Eles realmente não querem ir, estão cansados, tristes e estão esperando já pelo pior.
Me deram a Belina, como o velho sempre foi muito certinho, até me entregou os documentos do carro, isso realmente não precisava agora mas aceitei para faze-lo feliz.
Dei mais uma olhada para a rua através do portão, nenhum zumbi, nada mesmo, a casa da frente tinha alguns murmurinhos mas nada de assustador, as outras casas estavam em silêncio e tudo ao redor estava quieto. Ele me deu um relógio de pulso também, isso seria ótimo, ficar tirando o celular para ficar vendo as horas do bolso é uma perda de tempo constante.
Um boné também foi me dado e perguntei se o velho queria a arma dele de volta. Disse que não precisava, ele tinha outra de calibre maior em posse.
Olhei para a velha Belina, estava inteira, muito bonita mesmo, fico lembrando se ela aguenta o mesmo tranco que o meu carrinho alugado aguentou, acho que sim.
A diferença entre um Uno e uma Belina é grande. A lataria é mais resistente, tem mais espaço interno e o porta-malas é enorme, baixando o banco traseiro posso dormir a vontade. Me despedi dos velhos, entrei no carro e cheguei bem perto do portão para que ao abrir não de muito tempo para o portão ficar aberto. Olhei para eles tentando esboçar esperança, desci a rampa da garagem, manobrei e parti. Andando devagar para ver se nada pule em direção a eles enquanto o portão fecha, mas estava tudo limpo. Passei pela lombada, acelerei um pouco e fui embora. Não tenho mais sinal por aqui então o próximo relato será em breve em um posto de gasolina "tranquilo" que eu achar pelo caminho. Por enquanto não tem muitos carros parados por aqui mas sei que vou encontrar vários pelo caminho.
Acendedor de cigarros no painel... fazia tempo que não via um desses, vai ser meu melhor amigo daqui a diante.
Estr. Epdb lá vou eu...

Traçando a rota

Atualização para mostrar a rota caso algum sobrevivente ache minha idéia boa.
O mapa é simples:
A rota pode ser um pouco confusa mas não é tão complicado.

1.Siga na direção oeste na Shis Qi 21
88 m
2.Vire à esquerda para permanecer na Shis Qi 21
130 m
3.Pegue a primeira à direita para permanecer na Shis Qi 21
400 m
4.Vire à direita na Estr. Epdb
110 m
5.Faça um retorno
2,0 km
6.Continue para Via Epdb
450 m
7.Continue para Estr. Epdb
Passe por 1 rotatória
14,6 km
8.Pegue a saída em direção a Estr. Epia
72 m
9.Mantenha-se à direita na bifurcação para continuar em direção à Estr. Epiae pegue a Estr. Epia
9,6 km
10.Continue para Rod. Epia
3,2 km
11.Continue para BR-040
104 km
12.Pegue a rampa de acesso para a BR-050
222 km
13.Continue para R. Manoel Jacinto
270 m
14.Continue para BR-050
27,3 km
15.Continue para Estr. p/ Catalão
2,2 km
16.Vire à esquerda na Estr. p/Uberlândia
2,8 km
17.Continue para BR-050
Passe por 1 rotatória
27,4 km
18.Pegue a saída em direção a Av. Antônio Thomas Ferreira Rezende
130 m
19.Vire à direita na Av. Antônio Thomas Ferreira Rezende
45 m
20.Continue para BR-050
2,5 km
21.Pegue a rampa de acesso para a R. Florestano de Macedo Tibery
3,1 km
22.Continue para BR-050
Passe por 1 rotatória
133 km
23.Continue para Rod. Anhangüera
Estrada com pedágio em alguns trechos
65,3 km
24.Continue para Via Anhangüera
6,5 km
25.Continue para Rod. Anhangüera/Via SP-330
Estrada com pedágio em alguns trechos
276 km
26.Continue para Rod. dos Bandeirantes
Estrada com pedágio em alguns trechos
78,3 km
27.Sair na Estr. Chica Luísa
400 m
28.Pegue a rampa de acesso para aRoan. Mário Covas
Estrada com pedágio em alguns trechos
26,6 km
29.Pegue a saída para a Rod. Régis Bittencourt
374 km
30.Curva suave à direita na BR-116 Pista Lateral
500 m
31.Na rotatória, pegue a  saída para a rampa de acesso à Av. Victor Ferreira do Amaral
43 m
32.Pegue a Av. Victor Ferreira do Amaral
1,3 km
33.Continue para R. Quinze de Novembro
2,2 km
34.Vire à direita na R. Mariano Torres
180 m
35.Vire à esquerda na R. Cnso. Araújo
86 m
36.Continue para R. Pres. Carlos Cavalcanti
550 m
37.Vire à esquerda na R. Barão do Serro Azul
180 m
38.Pegue a rampa de acesso para a Tv. Nestor de Castro
260 m
39.Vire à direita na R. do Rosário
24 m
Claro que não preciso dizer que podemos ignorar solenimente os pedágios. Aconselho que não andem muito depressa, poderá ter vários carros parado na estrada, poderemos encontrar alguns desses zumbis. Rezo para que os postos estejam com combustível e óleo. Se não for pedir muito, água também. Essa viagem será meio longa, calculo em torno de 20 horas ou mais, dependendo dos acontecimentos. Se for dirigir de noite, não pare em hipótese alguma, devemos sempre lembrar que esses monstros nos farejam, não precisam muito do olho para enchergar a noite. Nunca ande sozinho, tenha sempre um co-piloto para alternar os turnos de direção ou para eventuais disparos ou para dar cobertura caso precisemos ir em um posto de gasolina.
Rota traçada, vou começar a me preparar para a viagem, vou abastecer o carro com mantimentos, vi que o marcador de gasolina está quase no cheio, poderemos ir longe antes de precisar abastecer. Melhor por algumas garrafas de água no carro embaixo do banco, pode ser útil. No mais, vou tentar reforçar de alguma forma o pára-choque desse carro para podermos empurrar outros carros parados na pista.
Vou planejar outros detalhes e atualizo quando possível.
-
Sem contato com outros sobreviventes, isso tem me preocupado.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Dia Z - pt. 5 - Ponto de partida...

Que dia é hoje? Estive de guarda por toda a madrugada até a neblina se dissipar, o sol bateu na minha cara e acho que dormi de exaustão.
Acordei com o velho me chamando, ele estava com uma cara abatida e a velha estava sonolenta. Eles não conseguiram dormir mas disse-lhes sobre a idéia de ir para Curitiba. Lá tenho um apartamento em um prédio alto, prédios assim são ótimos esconderijos se a portaria estiver bem lacrada, a idéia do litoral foi explicada e avisei sobre os problemas de tentar fugir por ar. Ele disse que já sabia sobre os ataques aéreos, nenhum avião das américas podem decolar e sair da costa, nem do Índico nem do Atlântico, mesmo em águas internacionais, os aviões serão abatidos. A última informação que tive dele é que, ao redor das américas há vários navios de guerra, porta-aviões fortemente armados e há a suspeita de um ataque com bombas de destruição em massa. Isso claro, é suposição... Perguntei se havia algo de perigoso a fuga por mar e ele não soube me responder. Disse que seria uma boa usar esse carro velho para descermos até o Paraná, é perto do litoral e seria mais tranquilo para fugir. O casal negou com um sorriso e uma cara de pesar.
-Estamos velhos, cansados disso. Aquele indivíduo que estava alvejando era meu filho... Eu suspeitava desse incidente e já sabia das conseqüências. Lembre-se, não será mais filho, namorada, marido, parente, mãe ou pai, após a infecção, é um animal carnívoro que não mede esforços para devorar você. - Disse o velho com os lábios encolhidos.
-Vai você meu filho - disse a velha - Pegue o que precisar, ajudaremos no que pudermos mas antes, tente conseguir um pouco mais de água para nós.
Era esse o plano inicial para hoje, não sei que dia é hoje, sem sinal, meu celular só mostra "off-line", sem data, apenas a hora já que configurei manualmente devido ao horário de verão.
Subi no telhado de novo para ver qual era a casa mais propícia a uma pilhagem mais segura. Havia uma casa, que passou na minha cabeça, que talvez seria boa, a do vizinho do lado. Estava sujo, estava uma cena pavorosa mas não havia sinal nenhum de movimento. Peguei a escada, subi até o muro, puxei a escada e coloquei apoiada do outro lado para poder voltar.
Ao descer a escada, que rangia bastante, não ouvi anda. Nenhum urro, gemido, nada. Aquele corpo boiando na piscina não se mexia mais do que as ondas da água devido ao vento poderiam mexer nele.
Andando pela varanda com certo cuidado para não escorregar no sangue entrei na casa com a arma pronta.
-Na cabeça, sempre na cabeça - falei baixinho para me certificar de não fazer cagada.
Andando pela casa achando que ia dar de cara com um zumbi desses, a entrada da sala pela varanda era bem larga, comum em casas de Brasília, já de cara deu com um conjunto de sofás bem acolchoados,  de cor mostarda de 2 e 3 lugares. Estranhamente limpos. O tapete embaixo deles estava limpo também e era branco. Me perguntei como que tinha esse pandemônio de sangue da porta pra lá e aqui está tão limpo?
Andando mais um pouco, olhando para as paredes cheios de quadros de família, com fotos ampliadas e molduras cheias de enfeites. Um quadro de metal com fotos presas com ímãs decorativos e toda essa coisa fofa de família. A casa era grande, teria muito o que explorar ainda, vou ver a água depois de ter certeza que não tem nada aqui que queira me devorar. Achei o computador ligado, na tela tinha alguns respingos de sangue, parece um espirro, gotas pequenas e só. Não achei nada de anormal dentro da casa. Resolvi explorar os quartos, pensei em marcar cada cômodo que explorar para não me perder. Abri a primeira porta do corredor, era o banheiro, limpo, enorme, uma toalha ainda estava úmida mas quase seca. Fechei a porta e risquei com uma caneta que tinha no bolso. A porta da frente era um quarto, apenas uma cama de solteiro e um armário de 2 portas. Deve ser o quarto de visitas, estava arrumado e levemente empoeirado no chão. Parece que ninguém entra nesse quarto a semanas. Ao abrir o armário só vi 2 cobertores e um travesseiro sem fronha. Fechei a porta e risquei de novo.
Na próxima porta, ao abrir, encontrei um quarto todo revirado, com alguns respingos de sangue na parede, não eram grandes mas me deu o que pensar. Não vou mexer mais nele, esse quarto esta mesmo bagunçado e uma pilha de edredons ali no canto me parece suspeito. fecho a porta e desenho uma interrogação na porta. Agora o último quarto, a cena foi forte, não foi nada agradável ver aquilo.
Uma família inteira sentada juntos, mortos, cada um com um tiro na cabeça e uma arma na mão do senhor ali. Era o pai das crianças, acho que no desespero ele matou todos e se matou. Era uma 38 e mais uma arma, mesmo sendo pequena, é útil. Peguei da sua mão dura e gelada e guardei no bolso. Ainda tinha alguns tiros, 4 corpos ali, 2 crianças o cara e o que deveria ser a mãe delas ali, juntos. Esse quarto era grande, havia muitos papéis no chão, desenhos, escritos, nada de muito útil e um armário enorme, escuro, que pegava a parede toda. Ao abrir achei bastante coisa legal. Mais balas para esse revolver, um notebook com carregador e uma mochila grande, parecido com aquelas de camping. Minha mochila era bacana mas não era grande, essa era boa mesmo, grande, cabia bastante coisa. Coloquei tudo dentro dela e fechei a porta. Risquei um X na porta e fui ver o resto da casa. A cozinha estava com pouca louça suja, nada revirado. A casa estava limpa por dentro, tirando aquele quarto, estava tudo em ordem.
A área de serviço tinha algumas roupas penduradas já secas. Nada de mais mesmo. Não tinha comida, parece que estavam se isolando aqui fazia tempo, sacos enormes de lixo estavam amontoado no canto da área. Fui ver a torneira, havia água mas nada para transportá-la. Nenhuma garrafa, o galão de 20 litros que eu queria já era. Minha idéia foi pegar uma mangueira do jardim e encher a caixa d'água dos velhos por ela. Ao voltar para varanda o velho estava em cima do muro vigiando, me olhou com uma cara surpresa, ele deve ter achado que eu não estaria vivo a essa altura. Falei que a casa estava ok mas a família estava morta. Não disse em que condições e nem que estava com outra arma. Disse que aqui havia água e achei uma mangueira no jardim. Falei para ele por a mangueira na caixa dele que eu ia abrir. Pela posição do Sol era perto de meio-dia.O velho puxou a mangueira ate sua caixa d'água e abri a torneira. Passamos um bom tempo ali enchendo a caixa, água para vários dias eles iriam ter. A gente se olhava mas não falava nada, o velho com uma cara de quem estava se lamentando muito ficava em silêncio. Não tínhamos mesmo o que conversar, apenas encher a caixa mesmo e me preparar para partir. Precisava ainda traçar uma rota até Curitiba, nunca havia dirigido por uma distância tão longa e não fazia idéia do que eu poderia encontrar no caminho.
O barulho de encanamento cheio de ar começou a ressoar pela torneira da mangueira. Isso significa que sugamos até a última gota do vizinho e agora o casal terá sua água por um bom tempo.
Pulei o muro de volta, olhando novamente para o corpo da piscina que continuava imóvel. Entramos na casa e preparamos uma grande refeição, hoje não precisávamos ficar de vigia, não precisávamos ficar alertas 100%, hoje eu iria comer bastante, dormir bastante e preparar minha viagem. Continuo não querendo saber o nome dos velhos, não quero estreitar ainda mais os laços afetivos com eles... sem nome, sem sofrimento.
Comemos bem e fomos dormir. Um silêncio mórbido ecoava no ar, nunca tinha tudo uma noite de silêncio como essa na minha vida. Os grandes centros urbanos não tinham essa quietude. Sonhei, sonhei com tudo que poderia sonhar sobre isso. Lembrando cada passo, cada grito, cada cara de pavor das pessoas que vi na rua. Acordo no meio da noite com sede, vou até a cozinha, bebo um copo de água e dormi de novo. Amanhã penso melhor no plano de fuga. Preciso mesmo dormir.

lembranças

A madrugada foi meio tensa. Escutar esses zumbis gemendo por todos os lados não fácil encarar. Pro meu alívio, esse gemidos eram meio de longe, das casas mais afastadas.Tenho a impressão que há outros sobreviventes por aqui nesse conjunto mas ninguém se manifestou, acredito que o medo esteja impedindo de fazerem qualquer barulho, muito natural isso.
Ate umas 3 da manhã escutei o velho tentando contato, o chiado do rádio e aquele som típico de rádio AM que parece um assobio contínuo com estática ao fundo ficou por horas na minha cabeça.
Escutei a velha chorando baixinho, pequenos soluços revelavam seu descontentamento. Escutei algumas piscinas tendo sua água espalhada, imaginei um zumbi idiota caindo dentro dela, isso me fez rir um pouco.
O que mais me chamou atenção pela sua total ausência foram os grilos. Não escutei nenhum. Nenhum inseto, pássaro, nada. Nenhum som de noite, apenas esses que descrevi.
Hora de um café... o sono está batendo e não quero baixar a guarda, mesmo estando sobre o telhado da garagem que dá de cara pra rua, não quero baixar a guarda por nada. Notei que o corpo do zumbi que matei hoje algumas horas atrás não está mais ali. A poça de sangue ficou mas o corpo sumiu... Será que não matei o morto bem matado? Tem que amassar a cabeça mesmo? Ou um tiro desse nenem aqui basta? Foi uma estacada pouco abaixo do olho, pelo que eu me lembre, das aulas de ciências, biologia e etc, acredito que só cutuquei o cérebro mas não detonei ele.
Melhor fazer um teste, vejo apenas um zumbi olhando para cima, o babão está impressionado com a luz do poste, ela falha e isso chamou a atenção dele. Mirei com calma, ele estava parado, apenas balançando de leve pros lados, mirei bem na testa.
PTOW!
-Malaaaandro!!! - falei com entusiasmo.
A cabeça abriu como um melão. A chicotada dessa arma no pulso foi forte mas me senti muito mais heróico com um canhão desses do que com um cabo de vassoura quebrado enfiado na cara de alguém. Caiu na hora, o som do tiro ecoou por um bom tempo. Estranhamente isso não chamou muita atenção deles, se tivesse mais por ai, sei que tem, eles teriam vindo, mas não, ficaram por ai mesmo. Bom saber disso.
Vejo o horizonte, as nuvens estão baixas e alaranjadas pelos incêndios pela cidade... que merda. Como isso foi acontecer?
Já que está tudo tranquilo peguei meu amigo celular e procurei o sinal WiFi novamente. Achei e dei uma navegada, sempre olhado pros lados. Vi em um fórum de sobreviventes norte-americanos que a infestação lá saiu do controle. Um rapaz de Dallas estava dizendo que todo o Texas foi tomado, a costa leste inteira também. Deu para ver pelo seu avatar do fórum que ele está on line, mas está ali faz 2 hora sem postar nada... Acho que sei o destino dele.
Dando mais uma busca e vi que no Canadá também está essa zona, México, Venezuela, Chile, Argentina... as américas foram realmente tomadas por zumbis.
Me dou conta que há uma luz de longe sobrevoando a cidade. Parece um helicóptero pelo modo de voar, já que ele para no ar não é mesmo? Ele faz pouco barulho, deve ser um militar então. Não tenho nada para sinalizar, ele está um pouco longe e não me veria nesse escuro e não veria a luz da tela do celular balançando no ar. Não vou ser burro em ficar gritando no telhado, se eu fizer isso eu vou ser ilhado por zumbis de novo.
Vamos ver o que temos de soluções viáveis para mim, já que estou no Brasil, qualquer carro seria útil, até essa Belina 82 branca estacionada aqui embaixo de mim.
Pela busca muitos estão indo pro litoral mesmo, os aviões estão sendo abatidos como forma de segurança, o Brasil foi sitiado e a ONU não quer nem saber, explodiu vários aviões lotados em pleno ar.
Pelo mar, essa é a solução. Vou evitar o litoral dos estados mais populosos, nordeste nem pensar, demoraria demais pra chegar e é muito populoso. São Paulo nem fodendo, 300 zumbis para cada vivo e Rio de Janeiro... bom, se não explodiu de vez deve estar sob controle dos traficantes, esse tem bastante arma e mesmo assim os idiotas querem lucrar nessas horas, dinheiro hoje em dia é um pedaço de papel que serve mais como lenha do que outra coisa. Me vejo com a única opção... Paraná. Santa Catarina é muito populoso em relação ao tamanho de seu litoral e não quero ver zumbi com bermuda de surfista.
A diferença é pouca de qualquer forma...
Tenho amigos em Curitiba, posso descer até lá, soube que mais ao sul a infestação está sob controle, ver se sobrou algum deles vivo e andar 2 horas de carro até o litoral. De lá nos viramos. Vou levar esse casal comigo, o velho pode ser muito útil e o café da velha é excelente, café em tempos que não podemos dormir é precioso demais.
Estou ficando com sono, já são 5 da manhã e vejo que a neblina está ficando mais densa, vou ter que beber mais café e ficar vigiando bem, ainda tenho que procurar por água em uma dessas casas, espero que em alguma delas tenha daqueles galões de 20 litros, será muito útil e vou dar a idéia de Curitiba pro velho, acho que ele vai topar.
Quando for de dia relato mais, o sobrevivente Luciano não relatou mais nada, ainda deve estar na casa que ele descreveu.
Me despeço aqui, tentando sobreviver.