segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Fronteira PR/SP - pt. 1

Me enganei, fui descuidado e isso quase me custou a vida. Os passos que escutei lá fora era de um zumbi também. O que será que está acontecendo? Ele andava normal, parecia uma pessoa normal mas estava com aqueles olhos brancos e a baba viscosa e negra escorrendo manchando a camiseta. Quando me viu pulou como um animal, rugindo uma fome medonha naquele berro gutural e correu atrás de mim. Para minha sorte eles continuam idiotas e não se atentam às coisas em volta. As armadilhas com pregos que montei no corredor de acesso até a porta de entrada funcionaram muito bem. Alguns rojões com pregos enfiados na entrada funcionam perfeitamente e o metal abafa a explosão da pólvora. Ótimo, era só cortar um pouco o pavio e puxar a cordinha na altura do pé que riscava aquilo e estourava. Aqui em São Paulo tem muitas casas de fogos e aqui onde moro tem bastante. Mas vou continuar meus relatos até minha chegada.
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Depois da explosão daquela casa e a fuga com o carro até achar outro esconderijo, fiquei muito preocupado com a aparição desses zumbis mais rápidos ou menos podres. Imaginei que teriam mais correndo até minha direção.
A estrada em si estava deserta, alguns carros espalhados a esmo nos acostamentos e nada de surpreendente nas coisas que via. Portas encharcadas de sangue, vidros quebrados e alguns corpos meio devorados... normal.
A luz do dia estava indo embora, mesmo com o céu limpo o vento estava esfriando o ambiente, isso era ainda mais preocupante, clima frio ajuda essas criaturas mas era um bom sinal, São Paulo é meio frio mesmo então isso significa que estou chegando. O que normalmente demoraria por volta de 12 a 15 horas está demorando quase 3 semanas. Preciso me apressar, não quero ficar na estrada sozinho e a noite nesse frio. Não tem luz nessa parte da estrada, não tem postes e anda que indica que algum dia ali teve vida. Essa parte rural das estradas é assustadora, mesmo quando não havia zumbis por aí. O indicador de calor do motor está subindo, talvez tenha danificado o radiador naquele solavanco da casa, se continuar assim o carro vai morrer também.

(Piada interna? Espero que pelo menos meu carro vire zumbi e continue andando atrás de gasolina ha-ha...)


Parei o carro, abri o capô e realmente estava muito quente e vazava, o radiador estava bem estragado, a tela da frente estava amassado de uma forma que indicava que alguma coisa bateu de baixo para cima. Carros antigos não tinham a bandeja de proteção abaixo do radiador.
Vi aquilo e esperei alguns minutos para esfriar um pouco, pensei que teria que fazer isso de agora em diante, parar de tempos em tempos para esfriar o motor. Acendi um cigarro e fiquei olhando em volta enquanto estava sentado no teto do carro com minha arma em mãos, não sou besta de ficar com ela guardada caso aparecesse alguns desses corredores zumbis.
Estava tudo terrivelmente tranquilo, nada de mais mas a visão que tive que salvou esse resto de ano foi um pássaro voando lá no alto. Vendo agora, fazia tempo que não via outros animais perambulando por aí a não ser insetos. Foi o primeiro ser vivo que vi que realmente permaneceria vivo. Acompanhei o vôo do pássaro até ele sumir no horizonte e foi quando percebi uma estrutura pequena na beira da estrada mais à frente.
Acho que ali seria um bom esconderijo, o Sol já estava bem baixo, aquele maldito horário que, dependendo da posição, ele fica bem na cara e atrapalha a visão de qualquer um. Arranquei o capô do carro e segui até essa estrutura, pelo menos o vento iria refrescar o motor um pouco antes de derreter tudo e literalmente cair no chão como uma bola disforme de metal retorcido.
Chegando perto, era um sonho se realizando. Um posto da Polícia Rodoviária Federal. Os vidros são blindados, as paredes são fortes, tem banheiro, tem cozinha e tem VIATURAS!!! Lanternas, armas talvez? Munição? Pelo amor de DEUS, tenha café.
Tirei até uma foto com o celular para mostrar, foi um alívio tão grande encontrar um lugar protegido assim.

Tem antena de rádio, tem ar condicionado isso pode ser minha salvação. Eu sei que as viaturas estão com o tanque sempre cheio, tem 3 viaturas, uma caminhonete é perfeita para mim. Minha bagagem cresceu bastante nessa viagem e eu vi como as chuvas daqui deixam a estrada, não quero passar por aquilo de novo.
Tem 2 caminhões parados por perto, não vou ve-los, não sei dirigir bem um troço desses e não quero me arriscar. Vou passar um tempo nessa guarita mas primeiro preciso revistá-la por inteiro.
Dando uma olhada cautelosa dentro do carro ainda, não vejo anda se mexendo, isso é um bom sinal. Não vejo nenhum corpo no chão ou alguma sujeira de sangue, isso é um péssimo sinal. Parei o carro e deu para ouvir o radiador borbulhando como uma panela de pressão, acho que essa Belina aguentou bastante só para me trazer aqui. Esse é o fim dela, o motor já era e tem pouca gasolina também, mesmo com galões de gasolina no porta-malas, não abasteci porque ainda queria encontrar um carro maior.
Saí do carro e caminhei com arma em mãos, eu já estava bem com esse tipo de preparo, muitos sustos e enfrentar essa barra ao longo do tempo me deixou bem seguro para usar uma arma.
Primeiro fui ver as viaturas, estavam limpas, nada dentro, apenas o coldre da espingarda com ela dentro. Vou pegá-las assim que terminar aqui. Verifiquei outra viatura e estava tudo em ordem também. Fui ver minha querida Blazer que chamou minha atenção. Pensando bem, estou usando carros com nomes de letra B, que coisa... Ela também tinha uma espingarda, essas calibre 12 e pelo que vi atrás do banco do motorista, tinha muita, mas muita munição mesmo. Ao ver a parte de trás da caçamba, estava tudo em ordem. Tinha uma mala amarrada com um kit de resgate e um kit de primeiros socorros e alguns cones empilhados. Está tudo perfeito até então, parece que nunca forma usados, não tem nem marca de lama nas rodas ou no pára-lamas.
Preciso ver logo dentro da guarita, está ficando escuro e qualquer coisa agora é um vulto escuro. A porta estava trancada mas lembrei que vi um molho de chaves dentro da pick-up. Abri a porta e quando peguei o chaveiro, olhei pela janela do carona e tinha um ali, me olhando, os olhos brancos refletiam como olhos de um gato com lanterna, era inconfundível. Olhei logo para trás e não tinha nada, apenas aquele, não estava de uniforme mas tinha um porte físico respeitoso. Caminhava devagar mas muito certo para ser um zumbi. Soltava uns grunhidos que pareciam uma língua estrangeira mas sua expressão facial era de raiva, como de costume para os zumbis. Ele veio em minha direção dando a volta pelo carro, me afastei um pouco e acendi aquela minha lanterninha de pilha em sua direção junto com a arma. Ele parou na mesma hora e ficou na mesma posição. Ele reconheceu aquilo. Sua atenção ficou voltada para a lanterna, parou de me olhar, ele seguia a luz da lanterna. Mexi um pouco com o braço para ter certeza e sim, ele seguia com a cabeça a lâmpada da lanterna. Para cima, para baixo, para os lados, somente a cabeça, parecia um cachorro observando algo curioso, até pendeu a cabeça um pouco para o lado talvez na tentativa de "focar" melhor aquilo. Ele arfava devagar, parecia que estava relaxando... muito estranho aquilo.
Eu estava muito abismado com aquilo foi quando que no meu descuido outro zumbi aparece correndo de trás de um dos caminhões e corre em minha direção, mesmo com a arma apontada para esse zumbi mais perto iluminei o zumbi que se aproximava, a reação desse zumbi que estava perto de mim foi inusitada. Ele atacou o zumbi que vinha em minha direção. Ele segui a luz e quando viu aquele zumbi correndo sendo iluminado correu como uma besta-fera para cima. Eles brigaram como 2 animais selvagens disputando território ou comida, nesse caso, eu. Mas o zumbi que veio do caminhão estava focado em mim mesmo enquanto o outro o atacava. Não entendi aquela reação mas enfim, tinha que tirar proveito daquilo. Enquanto os dois estavam lá se atracando eu deixei a lanterna no chão iluminando aquela cena bizarra e peguei as chaves, corri até a porta da guarita e a abri. Desesperado para encontrar o interruptor no escuro para ver o que tinha dentro, estava sem a lanterna e o vidro blindado da guarita era insulfilmado, estava um breu total la dentro. Quando acendi a luz levei um susto. Tinha apenas o corpo de uma agente estendido no chão, segurando uma arma e com sua cabeça estourada. Tudo levava a crer que ela se matou. Fechei a porta e tranquei. Estava um gelo ali dentro, o ar condicionado funcionava perfeitamente mas estava na temperatura mínima. Acho que foi isso que evitou a decomposição acelerada dessa agente. Vi um painel logo abaixo dos vidros, uma mesa que ia de ponta a ponta. Achei o interruptor de luz externa e liguei. O zumbi do caminhão estava em pedaços e o outro estava ensangüentado olhando para a lanterna bem de perto, quase enfiando o nariz nela. Sua posição animalesca confirmava uma suspeita minha. Alguns transformados estavam agindo da forma mais primitiva de um humano, como um símio.
Vou deixá-lo com seu conforto de luz e vou vasculhar o resto da guarita. Não é grande mas é espaçosa, parece uma kit-net. Ao abrir a porta do que seria a entrada ou sala de controle que separa dos outros cômodos, encontrei o banheiro limpo sem uso, uma cozinha improvisada, um dormitório com um beliche com  colchonetes enrolados e cobertores pretos padronizados ao lado do banheiro. Estava tudo muito arrumado, tirando o corpo da entrada, estava tudo em ordem mas muito frio. Havia uma porta menor e mais estreita no dormitório, estava trancada, com duas trancas de chaves tetra e uma barra horizontal na sua frente apoiada em 2 ganchos. Simples mas muito eficaz.
Realmente, poderia ficar aqui por um bom tempo, essa porta, mesmo pequena, era de metal, as paredes, pelo que vi as que separa os cômodos, são bem grossas e o vidro da frente é blindado. Como que eu sei? Tem um adesivo no canto inferior esquerdo dizendo que é blindado e temperado. Simples não?
As janelas são pequenas, mas ainda da pra passar um corpo esguio por ali mas mesmo assim tem grades de ferro chumbadas nas paredes. Isso é ótimo. Estou mesmo seguro aqui. Percebi um alçapão no teto do dormitório, era um quadrado de tamanho exato para um corpo, mesmo robusto como o meu, passaria ali sem muitas dificuldades. Tive que verificar isso também. Subi no beliche e empurrei a tampa. Havia um interruptor improvisado já de cara e ao acender vi que era parecido com um sótão pequeno. Dava para ver as vigas dessa construção. Achei que era um forro mas o teto era alvenaria mesmo, forte e resistente, acho que tinham planos para um segundo andar. O sótão, mesmo pequeno, dava para se locomover agachado e havia uma janela horizontal, fina, que abria da mesma forma daqueles basculantes de janela residencial. Abaixa uma alavanca e o vidro fica na diagonal mas esse ficava inteiro reto e tinha uma caixa grande perto da janela. Tive que abrir e para minha surpresa, muitas armas. Muitas, munições e algumas algemas. Deve ser o "paiol" daqui, tinha bastante arma e munição mas pelo que notei era o suficiente para 4 ou 5 pessoas andarem bem armadas. Tinha um binóculo, isso é muito útil e já coloquei o laço no pescoço para levar comigo. Invasão por cima também está fora de cogitação, mesmo se quebrarem as telhas, o alçapão é feito de metal também e é bastante pesado e ainda tem uma fechadura. Por dentro e por fora. Isso é bom saber, qualquer coisa tenho onde me esconder e armado. Estou mesmo cansado, por via das dúvidas vou dormir aqui em cima hoje.
Desci, peguei o colchonete e o cobertor. Me dei ao luxo de pegar um travesseiro também, coloquei tudo ali em cima junto com uma garrafa de água de 5 litros lacrada que achei na cozinha improvisada e subi, tranquei o alçapão e fiquei vendo pela janelinha as coisas lá fora. Deixei as luzes acesas caso algum sobrevivente passe por aqui, pode ser irresponsável da minha parte chamar tanta atenção, afinal, são holofotes fortes para iluminar toda essa incluindo a balança dos caminhões mas prefiro saber o que está vindo do que ficar na dúvida e só escutar barulhos estranhos. Torci para que esse zumbi da lanterna ataque outros que vierem, ele é muito forte mesmo e rápido, prefiro ele atacando os outros como um cão de guarda louco do que correr atrás de mim, e lá ele ficou, olhando a lanterna acesa mesmo com tanta luz acima dele.
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Estou exausto, comi bastante e hoje dei uma olhada pela vizinhança procurando alguma coisa ou alguém mas só vejo zumbis. Não escuto tiros, barulho de carro nem de animais, somente os gemidos abafados dos zumbis andando de noite por aqui perto. Essa casa em São Paulo é um ótimo refúgio mas preciso chegar logo em Curitiba, amanhã relatarei maiores informações da guarita, preciso dormir e repor as energias, hoje tive que fugir de alguns corredores, estou evitando ao máximo dar tiros, isso atrai muito deles.

Um comentário:

  1. Somente as Minhocas do MIB gostam mais de café do que você, rs. Não consigo parar de ler, a narrativa prende mesmo.

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